2007-12-30

pensamento de férias

A maior aventura de um ser humano é viajar. E a maior viagem que alguém pode empreender é para dentro de si mesmo.E o modo mais emocionante de realizá-la é ler um livro, pois um livro revela que a vida é o maior de todos os livros. Mas é pouco útil para quem não souber ler nas entrelinhas e descobrir o que as palavras não disseram...Augusto Cury

2007-12-27

E.A.I - Avaliação da Frequência

Vânia Rodrigues – 12
Sara Martins - 16
Aurora Coelho - 17,5
Ana Timóteo – 13,5
Melissa Perruca - 7
Ana Filipa Ferreira - 11
Carla Marques – 13,5
Catarina Bernardino - 4
Lénia Gonçalves – 14,5
Alicia Jeremias - 8
Ana Rodrigues – 13,5
Ana Afonso - 14
Ana Rita Morais - 14
Andreia Corda – 12,5
Camila Santos – 8,5
Célia Paz - 10
Joana Silva - 6
Lígia Sequeiro - 11
Nilza Macedo - 15
Sandra Silva – 10,5
Sílvia Neves - 9
Susana Joaquim – 13,5
Tânia Cunha - 8
Leonor Viegas – 16,5
João Barros - 10
Ângela Norte - 6
Carolina Bernardo - 9
Daniela Campos - 8
Eva Faustino - 8
Jessica Pinto - 8
Marta Nunes – 9,5
Micaela Bom - 8
Sandrina Marcos - 11
Sara Marques - 10
Andrea Loureiro - 6
Liliana João - 12

2007-12-21

Pensamento

Viver é ser outro. Nem sentir é possível se hoje se sente como ontem se sentiu: sentir hoje o mesmo que ontem não é sentir - é lembrar hoje o que se sentiu ontem, ser hoje o cadáver vivo do que ontem foi a vida perdida.
Fernando Pessoa

2007-12-12

Frequência de E.A.I - 1º semestre

Frequência
1-“ O que é Educação? Não há uma forma única de Educação, nem um único modelo. Em cada sociedade a Educação existe de maneira diferente. Em sentido amplo a Educação diz respeito à existência humana em toda a sua duração e em todos os aspectos.”. Comente
2-“Face ao seu carácter histórico-antropológico a Educação é um processo, é um facto existencial, é social, cultural, teleológico, é um processo exponencial, de natureza contraditória e não se confunde com a escolarização”. Comente.
3-“A problemática escolar no que se refere à escola básica tem representado um factor gerador de fenómenos de analfabetismo literal e funcional fazendo com que a rede pública de educação de adultos se torne num movimento de escolarização tipicamente remediativo.”Comente.
4- Qual o significado do P.N.A.E.B.A no movimento de educação de Adultos em Portugal?
5-“A palavra participação, que remete para o termo latino «particeps», costuma ser definida como a acção do que tem, toma ou forma parte de algo e recebe algo em troca”. Desenvolva o conceito de participação, tendo presente o papel da educação de adultos no desenvolvimento comunitário.
6- Defina as diferentes teorias do multiculturalismo que estudou.
7- Paulo Freire não se cansava de repetir que ninguém pode dizer a palavra sozinho. Para ele a educação tem de ajudar o ser humano a cumprir a sua vocação ontológica, fazendo com que cada um vire realmente sujeito da História. Comente
8- “Em Educação de Adultos a história das histórias de vida começou por se interessar pelos protagonistas das diferenças – ou seja, pelos outros. A utilização deste método biográfico tem demonstrado ser particularmente útil no trabalho com a pessoa adulta, pois, a revisão completa e ordenada cronologicamente da sua vida ajuda a compreendê-la e a atribuir-lhe sentido”.Comente

Boa sorte!

2007-12-05

E.A. I - Texto de Apoio


A pedido da Nilza aqui se apresenta um texto de apoio que se denominou de "um breve olhar sobre a rede pública de Educação de Adultos no Algarve" e que foi redigido há, mais ou menos, sete anos.


Um breve olhar sobre o que tem sido a rede pública de Educação de Adultos no Algarve, nestes últimos vinte anos, permite verificar que a diversidade de âmbitos associados ao conceito de educação de adultos, numa óptica de articulação entre o formal e o não formal, o escolar e o extraescolar, entre uma educação dinâmica, activa e participativa e o desenvolvimento socioeconómico, social e cultural, não foram suficientemente adquiridos. Contudo, apesar de ao longo destas duas décadas, terem existido alguns exemplos de boas práticas de educação de adultos feitas com as pessoas de uma forma activa e participada, em termos globais, os resultados ficaram muito aquém das expectativas criadas no início dos anos oitenta.
Tomando por referência a definição de Educação de Adultos formulada em 1976 na Unesco como, ” conjunto de processos organizados de educação, qualquer que seja o seu conteúdo, nível e método, quer sejam formais ou não formais, quer prolonguem ou substituam a educação inicial dispensada nos estabelecimentos escolares e universitários e sob a forma de aprendizagem profissional, graças aos quais as pessoas consideradas como adultas pela sociedade de que fazem parte desenvolvem as suas aptidões, enriquecem os seus conhecimentos, melhoram as suas qualificações técnicas ou profissionais ou lhes dão uma nova orientação, e fazem evoluir as suas atitudes ou o seu comportamento na dupla perspectiva de uma plena realização pessoal e da participação num desenvolvimento socioeconómico e cultural equilibrado e independente”,
então, muitos dos aspectos anteriormente enunciados tem estado, na sua maioria, omissos ou deficientemente ensaiados. Na verdade, o papel da Educação de Adultos como espaço privilegiado de desenvolvimento não tem sido bem entendido por quem tem responsabilidades neste processo, que devia orientar-se por princípios operativos criadores de espaços de aprendizagem, comunicação interpessoal, organização, progresso, formação de consciência crítica, capaz de levar as pessoas a participar na mudança da realidade social, numa óptica de desenvolvimento endógeno, global e integrado.
Falar de Educação de Adultos, nas décadas de 80 e 90, equivale a distinguir dois grandes domínios, um relacionado com a alfabetização, o ensino recorrente e extra-escolar que no Algarve tem sido da quase total responsabilidade da rede pública de Educação de Adultos e, um outro domínio, o da intervenção socioeducativa, desenvolvida pela sociedade civil através de Associações e outras Organizações que animadas por um impulso de fazer e servir realizaram diferentes iniciativas de participação social. A história da rede pública de Educação de Adultos no Algarve, nestas duas décadas de existência, foi caracterizada por sucessivas mudanças ecorrentes de diferentes intenções políticas correspondendo a diferentes orientações programáticas sobre o contributo da Educação de Adultos para o Desenvolvimento.
No Algarve, a década de oitenta, início da implementação da rede pública de educação de adultos, foi marcada por boas práticas de educação de adultos, quer no âmbito da alfabetização quer das modalidades extra-escolares. Neste período a implementação das acções de educação de adultos eram concebidas, na maioria das vezes, em função das necessidades expressas pelas gentes locais, com o objectivo de intervir junto dos grupos mais desfavorecidos socialmente, economicamente e culturalmente, numa perspectiva de educação para o desenvolvimento, rejeitando práticas tradicionais, sem negar o papel das soluções educativas formais. Um exemplo demonstrativo de boas práticas em educação de adultos é o caso do ex-Projecto Integrado de Desenvolvimento Regional do Nordeste Algarvio, um Projecto com grandes linhas orientadoras, apoiado financeiramente, assumido pelas Instituições com responsabilidades no desenvolvimento local. Este Projecto foi desenhado no sentido de perspectivar o desenvolvimento de uma zona desfavorecida através da identificação de problemas e necessidades locais em que se procurava privilegiar os recursos endógenos, na implementação de um leque de projectos de animação e desenvolvimento comunitário. Ao preconizar o desenvolvimento local como um processo global que reconhecia as múltiplas vertentes a contemplar, o Projecto Integrado comprometia a intervenção de diferentes instituições, grupos e pessoas com diferentes sensibilidades mas com finalidades idênticas. Com essas novas dinâmicas mudou-se o entendimento sobre a forma de intervir em educação de adultos que passou por orientações estratégicas e metodológicas, que procuraram elevar o nível sócio-educativo das populações locais, através de acções integradas em que interagiam diferentes pessoas de diferentes instituições, localizadas no nordeste algarvio e com responsabilidades no desenvolvimento local. Por “simpatia”, muitas das boas experiências desenvolvidas no âmbito do Projecto Integrado, depois de devidamente contextualizadas face às realidades locais, eram reproduzidas noutras zonas do Algarve, onde existiam problemas semelhantes e as Instituições estivessem sensibilizadas para trabalhar com a rede pública de Educação de Adultos, Direcção Regional de Extensão Educativa do Algarve, através das Coordenações Concelhias. A Educação de Adultos, integrada numa equipa pluridisciplinar programou, em articulação com outras instituições, um conjunto de acções que visavam a melhoria progressiva das condições de vida das populações, numa perspectiva de desenvolvimento regional, por forma a contribuir para a formação integral das populações, a sua fixação às zonas de origem, aproveitamento dos recursos locais e diversificação das actividades económicas. A acção da Educação de Adultos ao centrar-se em áreas fundamentais como a criação de cursos de alfabetização e ciclo preparatório, animação sócio-cultural e dinamização sócio-educativa das comunidades, assentava no princípio de que a obtenção de mudanças significativas e duradouras dependiam, fundamentalmente, do envolvimento dos grupos de pessoas. Deste modo, o desenvolvimento local dependia da criação de contextos socioeducativos que levassem as pessoas a assumir o papel de co-autores e actores do próprio desenvolvimento através da participação em actividades conjuntas. Face às exigências colocadas à Educação de Adultos no âmbito do PIDR, as acções a implementar não se limitavam, unicamente, aos cursos de alfabetização e actividades daí decorrentes, pois, os cursos sócio-profissionais surgiram em função das necessidades expressas localmente e com uma importância cada vez maior como factor económico de desenvolvimento global das pessoas. Estas actividades ao contribuírem para a preservação do património cultural das gentes da serra no que respeitava à reactivação de actividades profissionais em vias de extinção, constituíam, ainda, conjuntamente com as actividades de âmbito sócio-cultural, pólos dinamizadores dos cursos de alfabetização e aumento da credibilidade da Educação de Adultos. Para tal, tornava-se determinante o tipo de estruturação interna das equipas concelhias, na dinâmica que imprimiam na acção no terreno, os objectivos a atingir, os impactos previstos, as redes de relação estabelecidas, a especificidade das funções atribuídas a cada um dos elementos da equipa e, sobretudo, a vontade de inovar, de trabalhar com grupos sociais com maiores carências a nível social, económico, educativo e cultural, num clima de autenticidade e respeito pela individualidade de pessoas e grupos. As Coordenações Concelhias constituíam autênticos centros de recursos educativos, com uma rede de relações eficaz no seio da comunidade, disponíveis para realização de iniciativas de animação comunitária, utilizando todos os recursos institucionais disponíveis através de um bom relacionamento com os parceiros sociais locais. As equipas concelhias eram constituídas por dois tipos de agentes de educação de adultos: professores do 1º ciclo do Ensino Básico que exerceram, durante alguns anos, actividade docente com crianças dos 6 aos 10 anos de idade e que estavam destacados nas Coordenações Concelhias para desenvolver as actividades decorrentes do Programa de Educação de Adultos e os bolseiros, jovens com idades compreendidas entre os 20 e os 25 anos, indivíduos do meio ou dele muito próximo. Eram jovens com o 10º, 11º ou 12º ano, caracterizados pela vontade de trabalhar e contribuir para a melhoria das condições de vida, individual e colectiva das pessoas da sua aldeia ou monte próximo. Estes bolseiros faziam alfabetização. A formação para a alfabetização limitava-se a um curso introdutório de fim de semana que permitia funcionar com alguma eficácia desde que sujeitos a um processo de Formação e Acompanhamento Sistemático por parte das equipas concelhias e do Coordenador do Projecto. A cada uma destas equipas juntava-se um elemento da Coordenação Distrital que apoiava e supervisionava o trabalho das equipas através do Acompanhamento Sistemático. O acompanhamento sistemático era um elemento chave no processo de desenvolvimento das acções no terreno, na medida em que o objectivo principal consistia em ajudar o educador de adultos a desenvolver capacidades e competências que o levasse a explorar os conhecimentos de que dispunha para resolver os problemas com que se confrontava. Nos finais da década de oitenta começaram a sentir-se “ventos de mudança”, em termos de funcionalidade e autonomia, que consistiu na alteração das orientações institucionais, na atribuição de novas funções aos técnicos que faziam o acompanhamento sistemático das acções no terreno, na substituição das estratégias de supervisão por cenários de acompanhamento à distância com consequências evidentes na falta de coordenação, no isolamento a que foram sujeitos alguns dos agentes no terreno .
Este cenário de mudança é marcado pelo grande incremento de acções desenvolvidas no âmbito do PRODEP, que com o apoio do Fundo Social Europeu, destinavam-se a elevar os níveis educativos da população jovem e adulta, através de cursos de alfabetização e 2º ciclo do ensino básico e de cursos de formação socioprofissional. Com estes cursos do Prodep assistiu-se a um alargamento da escolarização, a uma burocratização dos Serviços relacionada com complexos processos administrativos, a marginalização das actividades extra-escolares com a ausência de acções de promoção cultural e cívica e de intervenção sócio-educativa junto de outros grupos da população não abrangidos por este Programa, uma vez que as Coordenações Concelhias estavam demasiado envolvidas com o Prodep. A subordinação da Educação de Adultos ao sistema escolar, o progressivo desinvestimento em termos de recursos humanos e financeiros, e as mudanças estruturais operadas tiveram no Algarve efeitos desastrosos para a rede pública de educação de adultos. É assim que, no ano de 1993 a Direcção Geral de Extensão Educativa é extinta, e fica traçado o “destino” da rede pública de Educação de Adultos no Algarve. Com a criação do Departamento de Ensino Recorrente e Extra-Escolar, a Educação de Adultos subordina-se ao sistema escolar como via alternativa para responder, em termos de segunda oportunidade, aos jovens que o sistema escolar rejeitou. Com efeito, um jovem que abandone o sistema formal deve ser recuperado, numa segunda oportunidade, podendo corresponder melhor num programa de estudos concebidos num contexto não formal. Este um dos papéis que devem ser acometidos ao Ensino Recorrente e Extra-Escolar, pois, numa região com os problemas de desenvolvimento observados nalgumas zonas, é da mais elementar justeza que se dê particular atenção a pessoas que poderão ser económica, social e culturalmente activas por mais 40 ou 50 anos. Infelizmente o conceito de Educação Recorrente tem sido entendido, quase exclusivamente, como educação de segunda oportunidade, incapaz de perspectivar a distinção operada por Paulo Freire entre educação libertadora em oposição ao que denominou de creditação bancária. Ao limitar e reduzir-se a acção da rede pública de Educação de Adultos quase exclusivamente ao sistema escolar, ao retirar autonomia e limitar os recursos financeiros das “Coordenações Distritais” negando-lhe um papel estratégico no desenvolvimento comunitário ao nível da intervenção socioeducativa, da formação cultural e cívica, do trabalho integrado com outras Instituições, começa a esvaziar-se por completo todo o sentido que assume o conceito de Educação de Adultos tal como foi definido em 1976, em Nairobi no Congresso da Unesco. É que, não obstante os discursos dos políticos apontarem para a necessidade de se valorizar a dimensão educativa da Educação de Adultos no sentido de se privilegiarem intervenções socioeducativas endógenas e integradas que tenham em conta as culturas e dinâmicas locais, na prática, o que se observou foi a contradição entre discurso e acção, que culminou com um estado de indefinição e um conjunto de mudanças operadas por decreto que tornaram claro que este subsistema educativo deixara de ser considerado uma prioridade política, face à perda progressiva de identidade e ao estatuto de marginalidade a que não é alheio o reduzido peso político-administrativo conferido pelo Estado.
Que futuro para a rede pública de Educação de Adultos no Algarve?
O Algarve, com uma área aproximada de 5000 Km2, constitui, com os seus dezasseis concelhos e setenta e oito freguesias, uma região naturalmente bem definida. As condicionantes naturais subdividem esta região em três zonas – serra, barrocal e litoral – de diferentes aptidões ecológicas que, obviamente, condicionam a distribuição da população e as suas vivências sociais, económicas e culturais. Ao litoral em crescimento acelerado, em perda contínua de identidade cultural, que corresponde a cerca de 1/5 da região, opõe-se um barrocal e uma zona serrana onde as gentes, contrariamente ao que acontece no litoral, continuam a resistir a certos fenómenos de aculturação. Segundo dados do INE, a um crescimento da população de aproximadamente 7% nestas duas décadas, atrás referenciadas, o Algarve constituiu uma das regiões do País com maior dinâmica demográfica. A este facto estava associado o forte desenvolvimento da actividade turística no litoral algarvio. A uma população presente de cerca de 424.000 pessoas (censos de 2001) corresponde uma taxa de actividade de cerca de 45% e uma taxa de desemprego de 9%,(valores aproximados). Relativamente ao número de desempregados, cerca de 15 mil pessoas, 12% correspondem a jovens à procura do 1º emprego, enquanto os restantes 88% correspondem a pessoas à procura de novo emprego. Relativamente às mulheres as taxas de actividade, apesar do seu contínuo crescimento, têm-se mantido inferiores às dos homens e as taxas de desemprego foram mais elevadas, sobretudo nas mulheres entre os 15 e os 24 anos. A maior parte das mulheres exerceram a actividade principal na Agricultura. Em 1997, a maior proporção de mulheres que trabalhava situou-se nos dois escalões salariais mais baixos. No que diz respeito à taxa de analfabetismo no Algarve, verificava-se o valor médio de 14,5% em 1991, contra um valor de 28% em 1981. Este decréscimo resultou, na sua maior parte, das acções de alfabetização levadas a efeito pela então denominada Direcção Geral de Extensão Educativa. A estes valores médios observados corresponde uma distribuição intra-regional bastante assimétrica e penalizadora das áreas mais desfavorecidas, com destaque para os concelhos da Serra, nomeadamente, Alcoutim (33,9%), Monchique (27,1%) e Aljezur (27,4% ) (último censo de 1991).
Segundo os censos de 91, cerca de 60% dos indivíduos analfabetos eram mulheres. Se nas idades mais jovens a proporção da população que não sabia ler nem escrever era quase idêntica entre homens e mulheres, quando se avançava para grupos etários mais elevados, sobretudo a partir dos 40 anos, a relação ia progressivamente aumentando no número de mulheres analfabetas. Em 1992, a percentagem de mulheres sem qualquer grau de instrução (61,9%), subiu para 63% contra 36,2% dos homens em 1997. Esta subida resultou do aumento do número de efectivos femininos com idades mais avançadas. Não obstante o lançamento de tantos cursos de alfabetização e da maioria dos jovens serem hoje alfabetizados, graças à frequência escolar, a taxa de analfabetismo no Algarve é ainda elevada, porque, ainda, existem jovens que percorrem o sistema escolar sem se tornarem, efectivamente, alfabetizados, e há pessoas adultas, sobretudo as mais velhas vivendo em situação de semi-isolamento que não aderem aos cursos de alfabetização. No início de milénio, no Algarve, o mapa do analfabetismo cobria praticamente as mesmas áreas que os mapas de pobreza, de desemprego, de isolamento das pessoas mais idosas, de falta de condições de qualidade de vida. O caso típico do analfabeto é aquele que não sabe ler nem escrever e que apresenta piores condições de vida. Nestas circunstâncias será o analfabetismo, por si só, verdadeiramente, o principal problema destas pessoas? Será que em primeiro lugar, não está a satisfação das necessidades mais básicas, conforme Maslow descreveu na hierarquia das necessidades humanas, em que as necessidades associadas à sobrevivência são determinantes para o desenvolvimento das capacidades intelectuais. Para o autor, na base da sua pirâmide encontram-se as necessidades fisiológicas e de segurança que condicionam a sobrevivência física das pessoas, depois seguem-se as necessidades sociais e de autoestima que consolidam as relações de confiança e de pertença e, por fim, no topo da pirâmide estão as necessidades de autorealização e de satisfação pessoal. A alfabetização parece ter maior êxito junto da pessoas e tornar-se educação para a liberdade se estiver associada a projectos de desenvolvimento económicos e/ou sociais. Deste modo pode constituir um factor de desenvolvimento das comunidades locais, não só pelos objectivos que prossegue no sentido de facultar a aquisição de conhecimentos básicos, de despertar a consciência crítica, de combater a inércia e o conformismo mas, também, pela pedagogia específica que pratica. A pedagogia da formação de adultos é, deve ser, activa, o que implica uma selecção e construção adequada dos materiais, a adopção de métodos e estratégias adequadas ao grupo de adultos educandos, o recurso a fontes comunitárias de aprendizagem, o estudo de problemas da vida real, que permitam à pessoa adulta criar comportamentos e atitudes de aprendizagem ao longo da vida.
Neste processo, o agente de educação de adultos desempenha um papel determinante no sentido de ser capaz de relacionar-se correctamente com os educandos, de aproveitar os seus conhecimentos e experiências e de os despertar para a consciencialização em torno de necessidades básicas tornadas não conscientes pelos valores e normas dominantes na sociedade. A questão fundamental reside no papel assumido pelo agente de alfabetização, um professor do 1º ciclo do ensino básico, em acumulação, que após um dia de trabalho com crianças dos 6 aos 10 anos de idade vai alfabetizar pessoas adultas. Sem negar as suas competências no ensino da leitura e da escrita, o que parece mais questionável é se estes profissionais do ensino básico terão formação e preparação para trabalhar com adultos e, principalmente, se terão ideias claras acerca do real significado do que é fazer alfabetização? Quando trabalham com minorias étnicas ou grupos sociais desfavorecidos terão consciência de que a aprendizagem da leitura e da escrita não implica apenas a aquisição de um saber fazer técnico, neutro, mas apela a valores e conceitos culturais fundamentais?
Um outro aspecto muito importante para a qualidade pedagógica das acções de alfabetização que, por vezes, não é levado tão a sério como deveria ser, é a produção de materiais didácticos. Os adultos educandos trabalham durante o dia e apenas podem estudar à noite ou nos raros momentos de lazer. Por outro lado, o dinheiro também não é muito para comprar livros ou revistas para os ajudar a aprender a ler. Daí que os materiais a utilizar nas sessões de alfabetização deverão ser adequados às necessidades de aprendizagem dos educandos, em termos de conteúdos e atraentes no sentido de ajudar à progressão na aprendizagem. Estes materiais devem ter em conta os problemas reais e imediatos dos adultos educandos e o meio em que vivem. As pessoas só aprenderão a ler e a escrever se virem utilidade em tal, pelo que os materiais a utilizar devem permitir ainda a aquisição de conhecimentos necessários para melhorar a sua qualidade de vida. Apresentados numa linguagem simples e directa, os materiais devem incluir assuntos que respondam ao grau de maturidade dos educandos. Daí que seja absolutamente proibitivo tratar os adultos como se de crianças se tratassem, de utilizar de forma inconsciente nas sessões com adultos os materiais utilizados nas aulas com as crianças do 1º ciclo, do tipo “ o piu...piu pia”. São estas utilizações indevidas de material didáctico que ao revelarem falta de sensibilidade, falta de formação para trabalhar com pessoas adultas, desrespeito, falta de ética profissional, descredibilizam a educação de adultos. Para a mudança das condições de vida das pessoas adultas que apresentam maiores carências a nível económico, social e cultural, impõe-se uma intervenção educativa que promova o desenvolvimento pessoal e profissional, que estimule a co-responsabilização social e favoreça a criação de espaços de solidariedade, pois, de nada serve aprender a ler, a escrever ou contar se os conhecimentos fundamentais adquiridos não encontram num determinado meio, uma aplicação quotidiana, concreta, imediata e benéfica.
Face ao exposto, o Ensino Recorrente e a Educação Extra-Escolar deve ser capaz de superar a distância entre escolarização e vida activa, pela relação que a educação deve ter com a vida real das pessoas adultas, numa perspectiva de desenvolvimento global da vida das pessoas e das comunidades onde inscrevem as suas actividades sociais e profissionais. Segundo Melo (1996) a construção de uma sociedade educativa faz-se sobretudo a “toda a largura da sociedade”, no quadro de uma política social, económica e cultural e de desenvolvimento integrado e endógeno com a participação das diferentes Instituições, nos mais variados espaços, através de projectos de intervenção comunitária que envolvam as pessoas na plenitude das suas funções de cidadãos. Daí a importância de sensibilizar os decisores políticos, económicos e sociais, pois, cada vez é mais visível que a ausência de comprometimento por parte destes agentes sociais tem sido a principal causa do fracasso dos programas de desenvolvimento da educação de adultos. Não será tempo de ensaiar novas experiências dando oportunidade a gente com outra formação e preparação para lidar com gente adulta? Porquê tanta relutância em legislar para que as Coordenações Concelhias sejam constituídas por equipas multidisciplinares que integrem profissionais de outros sectores? E a alfabetização? Até quando continuará ser administrada por professores do 1º ciclo do ensino básico, em regime de acumulação quando, como refere Benavente et al (1979), não revelam nenhuma competência especial para a educação de adultos, são muito marcados pela sua actividade com as crianças, o que tem aspectos negativos como uma supervalorização do saber ler e escrever e uma incompreensão do que é educação de adultos. Se as políticas educativas não mudarem o rumo das suas estratégias de educação de adultos, marcadas pela ausência de processos específicos, pela concentração de recursos humanos no denominado Ensino Recorrente e Extra-Escolar, face à ausência de investigação e inovação de métodos que lhes permita responder às necessidades das pessoas adultas, então de pouco servirão os investimentos e esforços gastos neste subsistema educativo. Neste momento no Algarve observam-se formas diversificadas de crise no tecido social, com situações preocupantes de desemprego, baixo nível de qualificação de recursos humanos, evolução da população residente com mais de cinquenta anos, exclusão económica, social e cultural, a que os esquemas tradicionais de solidariedade e previdência social não conseguem dar resposta. O contínuo fluxo de migrantes económicos e “refugiados” dos países de leste vieram marcar o início de profundas alterações na vida algarvia. O Algarve de hoje subitamente heterogéneo em alto grau, caracteriza-se por uma grande diversidade cultural acentuada pelas minorias, emigrantes, “refugiados” e movimentos de população que acorrem ao Algarve na procura de melhores condições de vida. Seguramente que este é mais um motivo para que a educação de adultos no Algarve constitua uma prioridade. Sobretudo num momento em que se reconhece a necessidade de aprendermos a viver todos juntos e aprendermos uns com os outros. Se para os “algarvios” a tolerância e a cooperação intercultural activa deve fazer parte do nosso dia a dia, os grupos minoritários que escolheram o Algarve para viver têm o direito de aprender. A educação e a formação são uma obrigação social e um bem público que se prende com o processo de desenvolvimento comunitário. Esta Aprendizagem, que não se confina à educação formal, será fundamental para uma maior coesão social, para consolidar valores fundamentais de ordem pessoal e social, para responder a problemas de exclusão e para dar resposta a exigências dos processos económicos. A educação é uma solução para dar resposta a mudanças rápidas ocorridas na sociedade em geral e no mundo do trabalho em particular. Daí a importância da Educação de Adultos...

“Se fizer um projecto para um ano, lance uma semente.
Se for para dez anos, plante uma árvore.
Se for para cem anos, ensine o povo.
Quando semear um grão uma vez, recolherá uma única colheita.
Quando ensinar o povo, recolherá cem colheitas”
Kuan Chang

Daí que o novo milénio exija uma melhor educação de adultos que reduza desigualdades e injustiças sociais. Mas, para mudar a “face” da rede pública de educação de adultos, não se podem esperar milagres. As mudanças são lentas e implicam investimentos de vária ordem, no âmbito da investigação, da formação, da preparação científica para trabalhar com pessoas adultas, do acompanhamento sistemático dos agentes de educação de adultos. Parece que não é só uma questão de esforço técnico-administrativo, nem sequer parece depender unicamente de medidas de políticas educativas, mas também, do papel das Instituições, do sentido profissional das pessoas envolvidas e a envolver, das questões ideológicas, do assumir de compromissos e, sobretudo, da qualidade, da formação e da vocação dos agentes de educação de adultos.

Bibliografia
Benavente, A.; Salgado, L. et al (1979) Objectivos, Situações e Práticas de Educação de Adultos em Portugal. Pensar Educação, 6. Lisboa. Ministério da Educação e Ciência.

Carneiro, R. (2001) Fundamentos da Educação e da Aprendizagem. Vila Nova de Gaia. Fundação Manuel Leitão.

Direcção Geral de Extensão Educativa (1992) Orientações 1993 – PRODEP Subprograma de Educação de Adultos. Lisboa: Ministério da Educação

Esteves, M. J. B. (1996) O Retorno À Escola: Uma Segunda Oportunidade? Trajectórias Sociais e Escolares dos Jovens e Adultos que Frequentam os Cursos do Ensino recorrente de Adultos. Inovação,9, (3), 205-217.

Freire, P. (1967) Educação como prática de liberdade. Rio de janeiro: Paz e Terra.

Freire, P. (1975) Pedagogia do Oprimido. Porto: Ed. Afrontamento.

Lima, L.(1994) “Forum de Educação de Adultos em Portugal” in L.Lima (Org.), Educação de Adultos – Forum I, 13-26. Braga: Universidade do Minho.

Lima, L. (1996) Educação de Adultos e Construção da Cidadania Democrática: Para uma Crítica do Gerencialismo e da Educação Contabil. Inovação,9, (3), 283-295.

Melo, A. (1996) Educação Permanente ou Materialismo Crescente. Noesis (37), 4-6.

Pereira, L. (1985) “Qual o contributo renovador da Educação de Adultos para o Desenvolvimento”. Forma (17), 45-46.

Reis, J. (1996) O Desenvolvimento local: Condições e possibilidades. In Rudy Hoven & Maria Helena Nunes (Org.) Desenvolvimento e Acção Local. Lisboa. Edições Fim de Século.

Street, B.V. (1990) O Significado Cultural da Alfabetização. Forma (38),9-11.











Disciplina de E.A. I - Fichas de Trabalho

FICHA DE TRABALHO 1

1-Definam os diferentes conceitos de educação que estudaram.
2-Desenvolvam esta ideia: “A educação não se confunde com escolarização, pois a escola não é o único lugar onde a educação acontece”
3- Qual o significado do P.N.A.E.B.A no movimento de educação de Adultos em Portugal?
4-Qual o papel dos PIDR(Ne) Alg. no desenvolvimento da rede pública de Educação de Adultos no Algarve ?
5- Comente a seguinte citação de Paulo Freire: “Toda a acção educativa deve ser dialógica, baseada nos conhecimentos e na praxis dos educandos e fortemente enraizada nos seus contextos culturais”
6- “Para que o trabalho de desenvolvimento comunitário seja sustentável, é importante ter uma visão e um plano para ele desde o início. A participação comunitária torna-se fundamental, pois a sustentabilidade é alcançada quando o processo de desenvolvimento pertence à própria comunidade local e é gerido por ela, não dependendo de ajuda externa”. Comentem
7-Indiquem quais as principais razões que justificam o fracasso das acções em Educação de Adultos.
8- Comentem “O conceito de «raça» constitui, então, um conceito utilizado para descrever uma construção social, através da qual, numa determinada sociedade, num dado momento histórico, determinados grupos de indivíduos são percebidos, designados ou se auto-designam, o que não implica a aceitação de uma doutrina acerca da existência de «raças humanas», no sentido biológico”


FICHA DE TRABALHO 2

1-“ O que é Educação? Não há uma forma única de Educação, nem um único modelo. Em cada sociedade a Educação existe de maneira diferente. Em sentido amplo a Educação diz respeito à existência humana em toda a sua duração e em todos os aspectos.”. Comente
2-Qual o papel do educador de adultos na construção de uma cidadania mais activa?
3- “A educação deve basear-se em quatro pilares fundamentais: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver juntos e aprender a ser. Estas quatro dimensões não se inscrevem numa fase ou lugares, mas ao sujeito como um todo e aos diversos contextos de vida, de forma que o indivíduo tire o melhor proveito de um ambiente educativo em permanente alargamento. O balanço de competências é uma forma de reconhecimento destes quatro pilares enquanto um todo, promovendo para o alargamento da aprendizagem e respectivos contextos formativos” Que papel assume o balanço de competências no âmbito dos Centros Novas Oportunidades?
4-“A problemática escolar no que se refere à escola básica tem representado um factor gerador de fenómenos de analfabetismo literal e funcional fazendo com que a rede pública de educação de adultos se torne num movimento de escolarização tipicamente remediativo.”Comentem
5-“A palavra participação, que remete para o termo latino «particeps», costuma ser definida como a acção do que tem, toma ou forma parte de algo e recebe algo em troca”. Desenvolva o conceito de participação, tendo presente o papel da educação de adultos no desenvolvimento comunitário.
6- Comente “Para que a educação de adultos em que nos queremos envolver seja um êxito e não um fracasso, no sentido de dar resposta às reais necessidades e aspirações dos adultos, temos que partir do conhecimento do meio social e cultural em que estão inseridos”

FICHA DE TRABALHO 3

1-“Quando falamos de educação, pensamos logo em Escola, no entanto, a educação faz-se, inicialmente, na família, e, depois, na rua, nos jogos e brincadeiras, na vizinhança. Pensa-se no ensino, como se educação fosse sinónimo de desenvolvimento técnico e intelectual e se omitisse os aspectos estéticos, morais, físicos, afectivos. Pensa-se na criança, mas não estão os adultos, também eles a aprender ao longo da vida, a educar-se mesmo que seja unicamente através da experiência da vida. O termo educação tem de ser utilizado em sentido lato. A educação é, ao mesmo tempo, um processo e o seu resultado”. Comentem
2-“Face ao seu carácter histórico-antropológico a Educação é um processo, é um facto existencial, é social, cultural, teleológico, é um processo exponencial, de natureza contraditória e não se confunde com a escolarização”. Comentem
3-“O que faz com que uma sociedade que apregoa valores democráticos, as pessoas aceitem a injustiça social, as práticas de discriminação, as diversas situações exclusão? Os problemas sociais acumulam-se justapondo no seio da sociedade categorias com rendas elevadas ao lado de categorias sociais excluídas do mercado e, por vezes, da sociedade”.Comentem
4- Um dos objectivos da Educação de Adultos é a capacitação (empowerment) das pessoas ao nível do social, do político e do psicológico. A Educação de Adultos deve ser considerada, como um subsistema que permita explorar novas formas de educação e intervenção comunitária”. Comentem.
5- Que sentido tem a participação na luta contra a exclusão social?
6- Comentem: “Toda a gente carrega um tipo de desvantagem ou outro, comparada com outras pessoas. Um passo importante na consciencialização das pessoas sensíveis aos Direitos Humanos é o de desenvolver a sua capacidade de reflectir sobre a sua própria posição na vida e de sintonizar com outros que têm menos vantagens ou que enfrentam desafios diferentes”.

FICHA DE TRABALHO 4

1 O que é ler?
2 Quais os objectivos da Leitura?
3 Quais as leis da aprendizagem?
4 O que é a educação não formal?
5 Defina o conceito de educação de adultos.
6- Concorda com esta ideia? Comente. É a sociedade que estrutura a educação em função dos interesses de quem tem o poder, pois encontra na educação um factor fundamental para a preservação do poder”.
7- Caracterize sumariamente o método de “animação da leitura”, sem esquecer as diferentes fases que a constituem
8- O Educador de Adultos é um agente de mudança? Justifique.
9- Comentem: Paulo Freire não se cansa de repetir que “ninguém pode dizer a palavra sozinho”. Para ele a educação tem de ajudar o ser humano a cumprir a sua vocação ontológica, fazendo com que cada um “vire realmente sujeito da História”.
10- Comentem “A utilização sociológica do conceito descritivo de «raça» continua a ser pertinente enquanto se acreditar que a humanidade é composta por grupos somática e culturalmente discretos, permanentemente diferentes entre si, e ao mesmo tempo, organizarem as suas relações com os outros com base nessa crença. A perspectiva sociológica deve, contudo, afirmar claramente que a ideia de «raça» releva da consciência dos actores e não da análise”.
11. Num Curso de alfabetização qual o interesse em saber: “afinal quem é o adulto educando? Quais são as suas características físicas, psicológicas e sociais? Quais os seus interesses e motivações? Quais as suas experiências de vida? Quais as suas expectativas?”
12- Comentem . “Em Educação de Adultos a história das histórias de vida começou por se interessar pelos protagonistas das diferenças – ou seja, pelos outros. A utilização deste método biográfico tem demonstrado ser particularmente útil no trabalho com a pessoa adulta, pois, a revisão completa e ordenada cronologicamente da sua vida ajuda a compreendê-la e a atribuir-lhe sentido”.


FICHA DE TRABALHO 5

1- Comentem “A pobreza não resulta de uma única causa, mas de um conjunto de factores como o mau funcionamento de um sistema democrático, fraca igualdade de oportunidades, da exploração do trabalho, da reduzida instrução, da discriminação social, da doenças, da adição a drogas ou das bebidas alcoólicas, das deficiências físicas”
2- Comentem: O agente de educação de adultos que vai trabalhar numa comunidade, quer seja dela oriundo ou não, dificilmente conduzirá sua acção no sentido de realizar os objectivos a que se propõe se não tiver um conhecimento aprofundado da realidade local que lhe permita a objectividade necessária para responder às necessidades educativas.
3- Comentem: Segundo Paulo Freire, não é a escola que fracassa mas a sociedade como comunidade educativa pois:
“ Não é a educação que forma a sociedade de uma determinada maneira, senão que esta, tendo-se formado a si mesma de uma certa maneira, estabelece a educação que está de acordo com os valores que guiam essa sociedade (...) A sociedade que estrutura a educação em função dos interesses de quem tem o poder, encontra na educação um factor fundamental para a preservação do poder” (Freire,P. e Illich, I. Diálogo. Buenos Aires, Búsqueda, 1975:30)
4- “Para motivar os adultos a ler é preciso criar estratégias de animação que os estimulem para o prazer da leitura”. Como educador de adultos que estratégias poderá utilizar? Fundamente-as.
5- Que importância se poderá atribuir ao método biográfico no âmbito da educação de adultos?
6- Defina as diferentes teorias do multiculturalismo que estudou.
7- Será que o Centro RVCC de Lagoa visa só a certificação ou realiza também trabalho de Educação de Adultos? Justifiquem a v/ resposta.

2007-11-27

Ainda a propósito da visita ao Centro de Novas Oportunidades de Lagoa

Texto de Apoio: A história de vida e a formação de adultos

A investigação em Ciências Sociais, devido às características do seu objecto de estudo, utiliza diferentes perspectivas metodológicas, face à complexidade do campo social. Quando a investigação pretende estudar os processos de construção e reestruturação de identidades individuais, de grupo, de género, de classe, num determinado contexto social, as histórias de vida convertem-se num método fundamental. A história das histórias de vida começou por se interessar pelos protagonistas das diferenças – ou seja, pelos outros. A utilização deste método biográfico tem demonstrado ser particularmente útil no trabalho com a pessoa adulta, pois, a revisão completa e ordenada cronologicamente da sua vida ajuda a compreendê-la e a atribuir-lhe sentido. O recurso ao método biográfico é uma perspectiva metodológica que foi largamente utilizada nos anos de 1920 e 1930, pelos sociólogos da Escola de Chicago, animados com a busca de alternativas à sociologia positivista. A Escola de Chicago, centrou-se em realidades como pobreza, exclusão social, imigração, segregação étnica, criminalidade, delinquência juvenil, doença mental. Das investigações realizadas, a que ficou mais célebre, refere-se a uma história de vidas cruzadas dos membros de uma família pobre da cidade do México, Filhos de Sanchez de Óscar Lewis. Nestas investigações, as histórias de vida mostram a teia social que se exerce sobre os mais desfavorecidos, vítimas de desemprego, violência doméstica, divórcio, mortalidade precoce, abandono escolar, marginalidade, suicídio.
Franco Ferrarotti (1988) refere que a aplicação deste método desencadeou importantes debates teóricos no decurso da sua evolução, numa luta contínua pelo reconhecimento do seu estatuto científico, enquanto método autónomo de investigação. Segundo o autor, o interesse crescente nos últimos anos pelo debate sobre esse método responde, por uma lado, à necessidade de renovação metodológica, face a uma crise generalizada dos instrumentos heurísticos da sociologia e face ao carácter exageradamente técnico da metodologia sociológica, fundamentado no axioma da objectividade. Por outro lado, o método biográfico corresponde à necessidade de se conhecer melhor a vida quotidiana. As teorias sociais voltadas para as explicações macroestruturais não davam conta dos problemas, das tensões e conflitos que tomam lugar na dinâmica da vida quotidiana, mostrando-se, portanto, impotentes para compreender e satisfazer esta necessidade de uma hermenêutica social do campo psicológico individual. Nesse contexto, o método biográfico apresenta-se como opção e alternativa para fazer a mediação entre as acções e a estrutura, ou seja, entre a história individual e a história social. A renovação da perspectiva biográfica não é mais que um estudo sobre a pessoa, sobre esse pessoa que a sociedade e as ciências socias pareciam ter esquecido. Na actualidade, os relatos biográficos convertem-se em objecto de estudo de várias áreas disciplinares. Historiadores, sociólogos, etnólogos, professores, educadores, responsáveis pela educação e formação de pessoas adultas renovam o seu interesse pelos documentos pessoais e pelo testemunho do vivido quotidiano. Actualmente, apesar de uma certa indefinição, quer epistemológica, quer metodológica, o "método biográfico" continua a afirmar-se. Poder-se-á sustentar que um dos elementos unificadores e presentes nas perspectivas impulsionadoras do uso dos relatos biográficos ou histórias de vida, reside no facto de este método constituir, antes de mais, uma "linguagem”. Ao reflectir sobre o percurso epistemológico das histórias de vida, aqui entendida como método biográfico, entende-se que pode ser situado em qualquer um de três campos, no campo da investigação, no campo da formação ou no campo da intervenção, conforme os diferentes paradigmas que o configuram.
A história de vida constrói-se com factos, reproduz-se pela oralidade e dispensa pontos de vista e singularidades. A matéria-prima com que se fabricam as histórias de vida resume-se a ouvir e falar. Numa palavra, conversa, praticar diálogo. Dar às palavras o sinal de pergunta ou resposta e dar ao silêncio um lugar actuante, como se se tratasse de um interlocutor que acolhe e não julga; um interlocutor expectante. A construção biográfica tende a tornar-se a finalidade principal da formação de adultos, contudo, a perda de referências culturais, as mudanças sociais, a rapidez da emergência das novas tecnologias obrigam a uma espécie de reconversão das bases educativas nas quais se fundam as histórias de vida. A vida adulta, nos dias de hoje, toma formas inéditas, daí que a construção biográfica enfrente novas condições de existência. O conflito entre jovens e gente mais velha, não é uma questão recente. Cada geração procura conquistar o seu espaço, o que provoca o choque com as tradições dos mais velhos. Os relatos de histórias de vida dos adultos fornecem inúmeros exemplos a esse respeito. Hoje, o futuro, com efeito, está obscurecido por uma espécie de capa que nos impede de representar a própria vida em longo prazo. O sociólogo alemão Peter Alheit refere que o curso da vida parece tornar-se numa espécie de laboratório que funciona sem programação. A vida toma a sua forma, em parte, no vazio e a biografia elabora-se, principalmente no incerto. Essa mudança que parece pôr em causa, o próprio sentido de uma história de vida, tem consequências evidentemente para a formação de adultos. Assim, em função do que muitos sociólogos denominam de desinstitucionalização do curso da vida, a pessoa adulta estará só frente a si própria, depois de ter perdido as suas marcas, aquelas que assegurariam a sua complexa identidade, familiar, escolar, profissional e ideológica. A sua formação não é mais dominada por uma busca pela independência, ela é, sobretudo, mobilizada por uma preocupação pela estabilidade. A biografia do adulto constrói-se, com efeito, num ambiente social no qual o factor económico desempenha um papel preponderante. Não é, pois, surpreendente que o horizonte biográfico se vá modificando. Os diplomas não garantem mais o acesso a um posto de trabalho. O desemprego fragiliza o emprego e o torna cada vez mais inacessível. O fim da vida profissional acontece cada vez mais cedo, num momento em que inúmeros adultos têm dificuldade de encontrar alternativas satisfatórias. Outras transformações sociais modificam o curso da vida. Ninguém sabe do que o amanhã será feito, a primeira reacção consiste em tentar salvaguardar o que se possui. A conservação das tradições e dos hábitos faz às vezes de refúgio, como a manutenção da segurança, onde ela se mostra possível, ainda. Nos contextos menos favorecidos, o horizonte biográfico tende a tornar-se mais trágico. Os adultos perdem esse recurso e avançam tacteando ao sabor dos meios disponíveis. A sua história torna-se num percurso de sobrevivência. De uma maneira geral, os adultos assumem como podem as contradições que habitam as suas vidas. Porém, muitos querem tentar defender-se para fazer face à precariedade e à insegurança. Em todo caso, a atitude crescente de defesa parece corresponder a uma forma de se simplificar a vida. Confrontados pela instabilidade geral que caracteriza o mundo actual, os trajectos biográficos dos adultos são, então, mais aleatórios.
A construção da história de sua vida, como assinala em especial Peter Alheit, está submetida a novas condições biográficas. Convém, todavia, considerar essa mudança de horizonte biográfico na perspectiva da diversidade de ambientes socioeconómicos, da idade das pessoas em questão, assim como das suas dinâmicas pessoais. Os relatos de vida, tal qual são produzidos no procedimento da biografia educativa, constituem, sob esse ponto de vista, um material que permite aprofundar, no seio de uma população homogénea de aprendizes adultos, a transformação das lógicas de construção biográfica. Se para muitos adultos o desenvolvimento da sua vida se passa ‘sem histórias’, são numerosos aqueles que, tendo a sua vida feita de ‘histórias’ complicadas, procuram descobrir um fio condutor. Em razão de mudanças desejadas ou sofridas, devem frequentemente recomeçar em outros lugares, segundo outras orientações profissionais ou outros modos de vida. O curso da vida pode não oferecer mais fases que se encaixem, mas percursos reduzidos a fatias de vida separadas umas das outras, feitas de contrastes, de mudanças de rumo ou de reorganização de modalidades de existência. Assim, quantos adultos não tiveram que aprender a refazer a sua vida enquanto imaginavam ter efectuado escolhas maduras e definitivas. A fragilidade do emprego, os conflitos relacionais, uma saúde defeituosa, constituem alguns exemplos de perturbações que habitam a história de vida de muitos adultos. Quando essas situações se tornam sem saída, é preciso renunciar e recriar, aceitar perder, para poder refazer. Aqueles que viveram essas mudanças sabem o que lhes custou. Mesmo reconhecendo o que aprenderam, não esquecem o sofrimento suportado. Poderá ser diferente? É preciso esperar que sim, desde que se considerem fórmulas de acompanhamento colocadas à disposição dos adultos para ajudá-los a melhor compreender os momentos que atravessaram. Toda a mudança mobiliza um grande gasto de energia e necessita de um trabalho de adaptação em profundidade. Os educadores que propõem soluções rápidas fariam bem em não esquecê-lo. A formação deve ser pensada considerando as descontinuidades da existência, ainda mais que as transformações impostas pela sociedade actual não acontecem sem choque. A formação pode intervir como forma de ajuda a pessoa a retomar o curso de vida, de ajudar a dar forma à sua vida, quaisquer quer sejam as circunstâncias? Tal concepção de formação não deve ser confundida com um trabalho de assistência. Quando o adulto se aflige para dominar as exigências de um projecto ou em conduzir a sua vida, é bom que ele possa dispor de apoio para realizar o que pretende ou para se reorganizar. O trabalho biográfico ocasionado por lógicas de ruptura, obriga a relações de ajuda e acompanhamentos que desbloqueiam as aprendizagens requeridas. A reconstrução do horizonte biográfico necessita de um trabalho de formação, que não se reduz a um único registo psicológico de desenvolvimento pessoal. Ela aponta para uma globalidade, feita da aliança de saberes múltiplos e de aprendizagens complementares. O recurso à formação ainda é considerado, por poucos, uma confissão de fraqueza. Somente aqueles que fizeram experiências de aprendizagem que os conduziram para outras escolhas, ou para outros comportamentos, sabem até que ponto esses apoios exteriores lhes foram úteis. Eles reconhecem que a sua vida não teria tomado a mesma orientação biográfica se estivessem privados de suportes formadores. É tempo de reconhecer que são necessárias aprendizagens para fazer face às dificuldades que perturbam a vida adulta. A formação, monopolizada pelo desenvolvimento pessoal e profissional, deve ser oferecida àqueles que precisam de apoios formadores para conduzir a sua vida adulta. O testemunho dos relatos biográficos é fundamental nesse caso. De modo geral, os relatos biográficos deixam transparecer os quadros de referência mediante os quais os adultos dão sentido à história da sua vida. Segundo Ruiz e Ispizúa (1989), através da história de vida procura-se conhecer a totalidade de uma experiência biográfica no tempo e no espaço, desde a infância até ao momento presente, considerando o indivíduo e todos os que entram em relação significativa com ele, desde a família às relações de amizade, escolar, social, bem como a definição pessoal da situação, a mudança pessoal e de sociedade. As histórias de vida têm um carácter diacrónico, daí que o investigador procure identificar a ambiguidade e a mudança, tentando descobrir as mudanças e ambiguidades pelas quais a pessoa vai passando no decorrer da sua vida, bem como dúvidas, interrogações, contradições, compreender a visão subjectiva com que cada um se vê a si mesmo e ao mundo, como interpreta a sua conduta e a dos demais para se adaptar a esse mundo exterior. Segundo Pineau y Legrand (1993) a história de vida como processo investigativo deve incluir três momentos:
- Momento exploratório. Ao realizarmos a entrevista com a pessoa devemos conhecê-la um pouco, um pouco da sua vida, do seu contexto social e profissional. No momento da entrevista já deve haver alguma relação entre entrevistador e entrevistado para evitar momentos de tensão. O narrador deve confiar no investigador. Na fase exploratória já há algumas conversas em que o narrador conta, não a sua vida, mas um dia da sua vida, as suas rotinas diárias, etc… é o momento de estabelecer confiança e simpatia. É o momento de destruir barreiras. É a fase da recolha da informação.
-Momento descritivo. É a fase de organizar a informação e dar-lhe sentido. Dá uma primeira imagem da história de vida. É o primeiro resultado obtido que permite iniciar a interpretação do social. Na descrição deve estar presente a etnografia dos espaços relativos ao sujeito estudado, nomeadamente casa, trabalho, recreação, cenários de vida a que atribui importância. A fase descritiva permite reconstituir a vida da pessoa, as suas relações pessoais, profissionais, institucionais (diz-me com quem andas, dir-te-ei quem és…), conflitos, percepções, significados
-Momento analítico. As histórias de vida têm um movimento em que se pretende passar da análise da história individual à análise da vida social. Por vezes, as histórias de vida, na sua fase exploratória, são relatos desconexos e espontâneos que passam a descrições coerentes. Com base num reflexão crítica vão se definindo espaços vitais e situações mais fortes carregadas de significado de acordo com o objecto de estudo. Nesta fase há que dar um salto da reflexão concreta a uma reflexão mais teórica. É o momento de ultrapassar o conhecimento do senso comum. Para isso o investigador terá de debruçar-se tranquilamente sobre cada um dos cenários mais importantes e sobre as situações mais críticas para reflectir sobre elas. A história de vida é a narrativa que cada pessoa faz de si mesmo. As histórias e as narrativas são lugares comuns na vida quotidiana. As narrativas ajudam a dar sentido aos acontecimentos da nossa vida. A história é a reconstrução da memória através de uma narrativa, individual ou colectiva, e ao mesmo tempo, pode constituir um mosaico de lembranças quando passa a ser o conjunto de histórias de um determinado grupo social. A narrativa consolida valores e norteia a compreensão do presente, para o indivíduo e o grupo. Reconstruir essa narrativa é uma forma de repensar a história de vida do entrevistado. As pessoas são, ao mesmo tempo, agentes e narradores das suas narrativas. As narrativas produzidas através dos relatos biográficos permite articular biografia e história, permite perceber como o individual e o social estão interligados, como as pessoas lidam com as situações da estrutura social mais ampla que se lhes apresentam no seu dia a dia. Permite reflectir a respeito da memória para além do que fica em registo, permite interpretar o que corresponde à realidade, mas também o que corresponde a uma certa “invenção” da realidade. Permite também recuperar aquilo que está mais escondido e que a narrativa pode ajudar a desbloquear. As histórias de vida são constituídas por relatos que se produzem com o objectivo de reproduzir uma memória pessoal ou colectiva, que faça referência ao modo de vida de uma pessoa ou comunidade num determinado período da vida dessa pessoa ou comunidade. Este é o principal aspecto que diferencia a história de vida de outros materiais como histórias pessoais, contos populares, tradição oral. É uma investigação apoiada em instrumentos privilegiados da pesquisa narrativa (as notas sobre o terreno, o diário, as cartas, o diálogo, a entrevista), para que, a partir de fragmentos do passado, se possa reconstruir a sua história. Na história de vida, a análise dos relatos assume um significado mais amplo, quando inscrito num marco teórico ou num contexto que lhe atribua sentido, pois, sempre que se dispensam valores, factos políticos, contextos históricos, a tentativa de entender a situação em estudo fica mais enfraquecida. Um relato biográfico é um documento de recolha de informação sobre uma experiência vivida por uma pessoa e contada pelas suas próprias palavras. É um tipo de investigação qualitativa de carácter descritivo em que o relato pessoal adquire fundamental importância. Com o relato biográfico pretende-se conhecer a realidade de uma pessoa através das suas próprias palavras, procurando apreender o que de mais importante é para essa pessoa, significados que atribui às “coisas”, perspectivas sobre a “vida” e a forma como “ lê” o mundo. Os relatos biográficos todos têm como ideia essencial que a pessoa é um ser de histórias, que as pessoas se compreendem contando histórias sobre eles próprios e sobre os outros e escutando as histórias que as outras pessoas têm para contar. O relato biográfico pode ser visto como um "lugar da palavra", situando-se não na relação interindividual, mas na aproximação intersubjectiva, na aproximação ao Outro, ao mesmo tempo, um meio viabilizador de uma expressão "em espelho". Uma vez que a vida quotidiana é vivida diferentemente segundo as idades e as personalidades, o relato biográfico é um verdadeiro espelho do sujeito enquanto actor, ser social, ser cultural e ser comunicativo. Ouvir a voz das pessoas ensina que o relato de vida é de grande interesse quando falam do seu trabalho, sendo o ambiente socioeconómico e sociocultural dimensões chave do que as pessoas são, do sentido do “eu”. O estilo de vida, as suas identidades e culturas ocultas, a profissão, os problemas, podem ajudar ao investigador a ver as pessoas em relação com a história do seu tempo, permitindo compreender a história da vida da pessoa no contexto da história da sociedade. Através do relato biográfico a pessoa redescobre o lado agradável de falar de si e explorar, sem apreensões, mais um passado reconstituído fielmente do que um futuro incerto. Igualmente importante no relato biográfico é também o seu carácter de não neutralidade para quem fala da sua vida. As recordações não são neutras porque recordar a prática do dia a dia já vivida não é somente recordar factos, de uma forma consciente, mas uma questão de reviver certos acontecimentos, ser capaz de os reordenar, dando forma a sentimentos, estabelecendo relações entre o que foi vivido. Por outras palavras, os relatos biográficos, podem consistir numa reconstrução que envolve, de forma consciente e reflexiva, a elaboração de grande parte da vida da pessoa, incluindo experiências pessoais e profissionais, ao mesmo tempo que fornece uma interpretação dos episódios vitais e da relação que a pessoa tem com eles. No fundo o estudo dos relatos biográficos consiste em tentar compreender como as pessoas experienciam o mundo, pelo que à luz desta ideia a educação também se faz na construção e reconstrução de histórias pessoais. A escolha deste método não reside nem no facto de constituir uma simples técnica de investigação, nem em ser uma técnica de animação, mas sim na sua adequação enquanto abordagem metodológica ao objecto que se pretende estudar. Num tempo em que se redescobre o valor do quotidiano, do local, do singular, os relatos de vida constituem um momento de fascínio tanto para o que relata como para o que investiga.
Segundo Guimarães (2005) o Relato de Vida é completo se, à partida, não fica de fora nenhuma trajectória de vida e cobre a globalidade da existência do narrador. Há dois tipos de materiais que podem ser utilizados na abordagem biográfica, os materiais biográficos primários, isto é, as narrativas ou relatos autobiográficos recolhidos por um pesquisador, em geral através de entrevistas realizadas em situação face a face e os materiais biográficos secundários, isto é, os materiais biográficos de toda espécie, tais como: correspondências, diários, narrativas diversas, documentos oficiais, fotografias, etc., cuja produção e existência não tiveram por objectivo servir a fins de pesquisa. Qualquer produto auto-revelador, que produza informação intencional ou não, que contemple a estrutura, a dinâmica e funcionamento da vida mental da pessoa, pode definir-se como documento pessoal. Relativamente aos materiais biográficos primários, através de entrevistas pretende-se valorizar o testemunho de pessoas que vivenciaram ou vivenciam as situações e problemas suscitados pelo Estudo. Os depoimentos, além de serem utilizados como fontes de pesquisa, também recebem o estatuto de documentos, formando acervos que são organizados em arquivos, podendo ficar à disposição tanto do investigador como da pessoa estudada. Tecnicamente entrevistar é estabelecer uma relação comunicativa que está sempre presente em todas as formas de recolha de dados orais. Na recolha desses dados orais (entrevistas, depoimentos e histórias de vida) a diferença entre histórias de vida e depoimentos está na forma específica de agir do investigador ao utilizar cada uma destas técnicas durante o diálogo com o narrador. O termo entrevista pode ser usado para designar o momento em que investigador e entrevistado estão frente a frente, e o termo depoimento serve para indicar o resultado dessa relação comunicativa. Depoimento é uma técnica utilizada para obter declarações de um entrevistado sobre algum acontecimento no qual tenha tomado parte ou que tenha testemunhado. A entrevista pode-se esgotar num só encontro, os depoimentos podem ser muito curtos, residindo aqui uma das grandes diferenças com as histórias de vida. Toda a história de vida encerra um conjunto de depoimentos (Queiroz, 1991). Quando se trabalha com um conjunto de depoimentos, cada depoimento contribui para a investigação, isolando acontecimentos ou indivíduos, complementando informações, oferecendo os elementos necessários para a construção do contexto social ao qual a investigação se refere. A trajectória de vida do entrevistado é a porta de entrada para a realização da leitura dos depoimentos que devem ser reorganizados cronologicamente e de forma coerente. Inicialmente o investigador irá deparar-se com uma aparente desordem nos depoimentos, a qual precisará de ser superada para que se organize o método de interpretação das informações relacionadas com o problema da investigação. Reorganizar um depoimento significa identificar recorrências e agrupá-las, ordenar a narrativa num eixo diacrónico. Essa diacronia deve ser construída tanto para os depoimentos considerados isoladamente como para construir diferentes cenários espacio-temporais que situam acontecimentos inscritos num conjunto de depoimentos. Num depoimento podem considerar-se vários aspectos. Primeiro que tudo, o Tema que, em geral, é oferecido ao entrevistado e tem estreita relação com o problema de pesquisa, daí a importância do guião de entrevista que permita um bom desenvolvimento do tema. Depois, o Episódio que é o elemento mais próximo da organização do texto do depoimento. Os episódios são parcialmente orientados pelo guião da entrevista e marcados por recortes espacio-temporais, configurando-se como unidades de desenvolvimento da narrativa e estando relacionados com as diversas fases da vida do entrevistado. Cada episódio, além de poder apresentar sub-temas, inclui um conjunto de marcos cronológicos e espaciais. Ao se trabalhar com um conjunto de depoimentos, identificam-se determinadas Referências, ou uma referência comum, uma data, por exemplo, que poderá auxiliar na construção do eixo diacrónico ao qual se prendem as narrativas. A citação de datas, locais, acontecimentos do domínio público e personalidades públicas permite uma leitura conjunta e a construção de um contexto onde estão inscritas as lembranças do entrevistado. Essas referências situam episódios e entrevistado num quadro mais amplo que encerra um determinado Motivo que precisa ser identificado. O motivo é o sub-tema particular, é o elemento que deve ser entendido como aquele que distingue um episódio de outro, a partir da significação que ele encerra no conjunto do depoimento. Finalmente a Trama que é a maneira como o entrevistado organiza o seu depoimento, sendo percebida pelo encadeamento dos episódios. Cada entrevistado faz o seu depoimento evidenciando uns aspectos e omitindo outros. A trama identifica a disposição pessoal do entrevistado que está relacionado com a sua percepção do real. Uma percepção orientada por valores sócio-culturais e que individualiza um depoimento em relação a outro, ainda que sejam construídos com base num mesmo tema. Convém referir que a matéria prima dos depoimentos, com os quais o investigador trabalha na recolha de dados orais, são as lembranças. As lembranças não vivem no passado, precisam de um tempo presente para serem recolocadas face a um sentido relacional. As lembranças não se apresentam isoladas e envolvem factos e pessoas. Através da entrevista procura-se que a pessoa recorde através de associações mais ou menos livres, pode não se lembrar da data precisa de um acontecimento, mas lembrar-se, mais ou menos, quando ocorreu. À medida que os acontecimentos se distanciam no tempo, há a tendência para os recordar sob a forma de acontecimentos, de entre os quais lembram melhor uns que de outros. Segundo Halbwachs (1990) as memórias individuais são construídas a partir das experiências do indivíduo no interior de grupos sociais. Para o autor, a memória é um fenómeno social que se manifesta de forma colectiva, individual ou histórica. É colectiva porque está relacionada coma vida da pessoa e em que o passado faz parte da consciência de um grupo social. A memória individual é um ponto de vista sobre a memória colectiva. A memória histórica é uma forma de conhecimento do passado. Recordar constitui um acto de conhecimento (cognitivo), que o indivíduo com um certo distanciamento produz sobre situações vividas no passado. Na maior parte das vezes, recordar não é reviver, mas refazer, reconstruir, repensar, com ideias de hoje, experiências do passado. O indivíduo ao recordar, oferece uma descrição dos acontecimentos ocorridos que supõem já uma certa análise desses mesmos acontecimentos, dada a distância temporal em que ocorreram e a sua maneira de avaliar essas experiências vivenciadas. A ideia de que a memória tem valor social potencia cada pessoa a tornar-se agente da sua história de vida e, também, da história do grupo a que pertence. De acordo com Pollak (1992) e Bosi (1995), as memórias relembradas vêm carregadas tanto da marca da história pessoal do entrevistado como também trazem referências aos contextos sócio-culturais por ele vivenciados. Assim, a história, com as facetas, pessoal e social, da pessoa entrevistada, é construída a partir dos depoimentos orais (as narrativas) que dependem da memória do entrevistado. Mas, memória não é história, a história é a narrativa que se constrói a partir da memória, daquilo que o entrevistado se recorda. E memória não é sinónimo de depósito de tudo o que aconteceu na vida da pessoa, a memória é selectiva, pois, só guarda o que, por qualquer razão, tem ou teve algum sentido na vida da pessoa. A memória é algo vivo que, ao ser recordada, o passado e o presente vão se embaralhando no presente. A memória vai fazer apelo às lembranças do passado e, o que vem à recordação é o que é relevante para o narrador. Portelli (1997) refere que trabalhar com memória significa trabalhar com algo que está em processo e com um processo que é singular. Ou seja, as histórias relatadas, mesmo que parecidas, possuem as suas particularidades, a sua própria identidade. Cada narrativa é única e deve ser tratada como tal. Pollak (1989) denominou de memórias subterrâneas, as memórias que estão guardadas de modo muito profundo na mente, ou mesmo inconscientemente, e que podem vir a aflorar, sendo recuperadas aos poucos, quando motivadas por razões do tempo presente. Segundo Montenegro (1997), quando se trabalha com processos de rememoração e é proposto à pessoa entrevistada vivenciar a experiência de retorno ao passado, ela recorre às percepções e influências que as experiências mais recentes lhe proporcionaram, o que lhe permite a construção da compreensão dos próprios processos de constituição da sua história de vida ou até mesmo da identidade pessoal e profissional. Rememorar o passado não significa trazer de volta ao presente os acontecimentos vividos exactamente tal como ocorreram, mas reconstituí-los através da vivência actual.

(Nota: este texto não apresenta referências bibliográficas. Os alunos deverão fazer essa pesquisa)

2007-11-20

Aula de E.A. I (dia 20/11)

Preparação da Visita a realizar dia 21/11 (4ªfeira) ao CRVCC de Lagoa


Texto para discussão na aula: A educação de adultos e os Centros de Novas Oportunidades

A educação de adultos é o conjunto de processos que permitem a construção de aprendizagens, ao longo da vida, com o objectivo de melhorar conhecimentos, promover competências, valores, atitudes, no âmbito do desenvolvimento pessoal, social e profissional. Para que ocorra a educação de adultos, primeiro que tudo, o indivíduo tem de ter vontade de aprender, depois devem existir condições para que tal aconteça, ou seja, que existam espaços de aprendizagem e educadores/as de adultos. De acordo com a UNESCO (1997) a educação de adultos torna-se mais que um direito: é a chave para o século XXI. A educação de adultos pode modelar a identidade do cidadão e dar um significado à sua vida. É um poderoso argumento a favor do desenvolvimento ecológico sustentável, da democracia, da justiça, da igualdade entre os sexos, do desenvolvimento socioeconómico e científico, além de ser um requisito fundamental para a construção de um mundo onde a violência cede lugar ao diálogo e à cultura de paz baseada na justiça. Então, quais as oportunidades de que as pessoas, actualmente, dispõem para continuar a aprender? Uma das estratégias públicas de educação de adultos existentes, actualmente, em Portugal são os Centros Novas Oportunidades que concretizam o Sistema de Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências, constituído de modo a permitir o direito a todas as pessoas de verem reconhecidas as competências que foram adquirindo ao longo da vida, nos mais variados contextos, pessoais, sociais e profissionais. O Processo de Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências dá oportunidade a todas as pessoas adultas, maiores de 18 anos, que não tenham completado o 4º, 6º, 9º ou 12º ano de escolaridade, de verem reconhecidas, pessoal e socialmente, as competências e os conhecimentos que nos mais variados contextos foram adquirindo ao longo da vida, promovendo e facilitando percursos de educação e formação, com certificação escolar oficial. Os Centros Novas Oportunidades organizam-se em torno de três eixos fundamentais de intervenção: eixo de reconhecimento, eixo de validação e eixo de certificação de competências. O eixo de reconhecimento de competências consiste na identificação de competências adquiridas ao longo e em todos os contextos de vida através da utilização de um leque de instrumentos variados assentes em metodologias de balanço de competências e de histórias de vida. O eixo de validação de competências é realizado perante um júri de validação e consubstancia-se na apreciação das competências evidenciadas pelo adulto face às áreas de competências-chave estabelecidas no Referencial de Competências-Chave de Educação e Formação de Adultos. O eixo de certificação é um processo administrativo que confirma as competências adquiridas e constitui o acto oficial do registo de competências. O processo de Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências faz-se através da construção de um arquivo de testemunhos pessoais (dossier pessoal) onde se registam e organizam documentos que comprovam os saberes e competências adquiridos ao longo da vida que levem a uma reflexão pessoal sobre o percurso de vida e à (re) definição de um projecto pessoal. O Referencial de Competências-Chave para a Educação e Formação de Adultos é um documento fundamental que orienta o trabalho de reconhecimento, validação e certificação desenvolvido pelos formadores, pelos profissionais e pelo adulto num Centro RVCC. É através da construção do Dossier Pessoal, tendo como enquadramento o referido referencial, que se desenvolve o processo de investigação e exploração de competências. As quatro áreas de Competências-Chave (Linguagem e Comunicação, Matemática para a Vida, Tecnologias da Informação e Comunicação e Cidadania e Empregabilidade) contempladas no Referencial são consideradas básicas e essenciais para o adulto. Em cada uma destas áreas estão contemplados critérios de evidência que especificam e clarificam o que se deve ter em conta em cada uma das unidades. Feita a auto-avaliação, o Adulto fará o seu Pedido de Validação de Competências-Chave para ser presente ao Júri de Validação do CRVCC. Se o adulto não demonstrar as competências necessárias, poderá ser-lhe apresentada uma proposta referindo a formação complementar considerada indispensável para colmatar as lacunas existentes e dessa forma efectuar, posteriormente, a certificação do 4º, 6º ou 9º anos de escolaridade. O Dossier Pessoal é um instrumento de formação que promove ao mesmo tempo a auto-avaliação e a motivação para novas aprendizagens: Auto-avaliação, porque é construído pelo próprio formando, torna-se assim um instrumento que permite avaliar potencialidades e competências adquiridas pela pessoa, que poderão ser validadas; Motivação para novas aprendizagens, porque é um processo de auto-descoberta, promove o reforço da auto-imagem, levando consequentemente à procura de níveis mais elevados de qualificação escolar e profissional, numa perspectiva de formação ao longo da vida. O Processo de RVCC passa pelas seguintes etapas: Acolhimento (Sessão Individual com Profissional de RVCC), Balanço de Competências/ Dossier Pessoal (Sessões colectivas com Profissional de RVCC / Formadores), Formação Complementar (quando necessária com formadores), Júri de Certificação (com Profissional de RVCC, Formadores, Avaliador Externo). O RVCC é, sobretudo, um processo de educação de adultos, que também certifica, mas, a certificação não deve ser considerada como o único objectivo a atingir, já que o mais importante parece ser a possibilidade de promover a educação e formação ao longo da vida. O RVCC também deve ser um espaço de aprendizagem para pessoas que espontaneamente adiram a outras actividades que não sejam especificamente denominadas de “formação” podendo ser de outro âmbito, como actividades sócio - educativas ou sócio – culturais. Deste modo, o Processo RVCC visa não só a certificação, mas um trabalho verdadeiro de Educação de Adultos, através do qual as pessoas podem obter respostas e acompanhamento dos seus projectos de vida numa perspectiva de aprendizagem ao longo da vida. Assim, o que parece importante é que os Centros Novas Oportunidades tenham capacidade para responder de forma pronta e adequada às necessidades dos adultos que os procuram.

Animação da leitura - mais uns textos de produção colectiva

Texto:
O que significa Deus, será que é algo superior a nós, a origem de tudo o que se passa no mundo é do interesse de todos, é necessário conscientizar o Homem para o mundo que o rodeia, o homem, a mulher e as crianças, são seres e como tal cada um tem a sua história de vida e a sua importância. Porque cada caso é um caso e avaliando caso a caso, as histórias darão sempre um texto e um conteúdo diferente. Dependendo da interpretação de cada um, o mesmo assunto poderá ter diversas opiniões ou conceitos. É necessário falarmos de tudo, de falarmos com os outros, de nos ouvirmos uns aos outros! É importante aprender ensinando e ensinar aprendendo! Paulo Freire no Acto de Ler fala exactamente nisso! Paulo Freire, um dos maiores educadores do mundo, que tentou teórica e praticamente atingir uma utopia, mas a utopia não existe, não é? É apenas o amanhã! Se não existe utopia, então porque é o amanhã? Afinal, o amanhã é muito subjectivo, muito complicado, sei lá… talvez amanhã eu possa compreender o que é realmente o amanhã! Quem sabe!


Texto:
Afinal, no inicio, o que é que era? Será que era Adão e Eva? É uma questão muito complicada mas, questionável. Foram eles que iniciaram a raça humana? Talvez sim, talvez não! Mas eu acho que a Eva até era uma boa rapariga, talvez um pouco influenciável pois não tinha intenção de prejudicar mas sim ajudar, embora cada sujeito deva ter uma boa formação, pois o homem tem direito à instrução, à educação. A formação é um complemento essencial para todos nós pois a partir desta é que evoluímos pessoal e a academicamente. Já a educação é mais abrangente, porque é um assunto que é abordado constantemente quer nas escolas, quer na nossa sociedade. Em relação a este tema que tem implicado diversos debates é extremamente importante que a vejamos como o ponto fulcral. É sempre e cada vez mais necessário a instrução, a educação para que a nossa sociedade cresça! Cresça para que tenhamos uma sociedade igualitária onde seremos “todos diferentes, todos iguais”

Texto:
O curso de Educação Social é muito engraçado porque é quase sempre palhaçada, onde se partilham ideias e opiniões. As aulas do professor Joca são interessantes e bem vistas.
Eles costumam passear à beira do mar, respirando a brisa marítima que faz bem à saúde. E desperta a nostalgia, faz-nos lembrar de outros verões. O verão é uma estação do ano muito alegre onde as pessoas aproveitam para ir à praia e descansar do ano atribulado que tiveram. Este ano parece que ainda é Verão. Mas eu prefiro o Outono! As folhas a caírem, a brisa quando passeio na praia, as ondas e o areal mostram uma cena fantástica, dá-me força, transmite-me tranquilidade....É tão bom quando nos sentamos em qualquer sitio da praia e nos pomos a olhar para o mar, para os barcos, para o céu azul e o sol brilhante. Reflectimos e ganhamos uma força interior que nos dá força para continuar a viver e para sermos mais felizes. Pois só fazendo coisas bonitas seremos felizes. A felicidade é uma coisa tão bonita e que todos serão felizes se conseguirem alcançar a felicidade.

Texto:
Era uma vez uma menina que vivia num país muito distante e longínquo e era muito infeliz. Precisava de amigos para falar e foi ter comigo! Não sabia o que lhe dizer e fiquei ali… simplesmente a ouvir os seus desabafos, os seus medos, a sua angústia. Os amigos são mesmo para isso, não é? Para ouvir, para ajudar nas horas boas e nas horas más. E ali estava eu a ouvir um bom amigo, que me dava tudo aquilo que eu necessitava, carinho, compreensão e acima de tudo valor, uma coisa que eu pensava que não tinha, e que esse amigo fez-me ver que afinal eu tinha toda a razão, embora nem sempre nós tenhamos a razão com a gente, nesse caso temos que ter a, tipo a frase da Susana não diz nada de jeito, então eu vou improvisar. Era uma vez um sapo que sonhava tornar-se um chimpanzé lol, claro que teria muito trabalho mas conseguiria pois a sua força de vontade e fé era maior que tudo, porque um sapo para se transformar em chimpanzé… ui ui… teria de passar por muitas fases. As fases da vida, teríamos aqui pano para mangas, porque indiscutivelmente, todos nós temos fases diferentes e discutíveis.

Texto:
Era uma vez uma boneca chamada Ana Afonso. Esta tinha olhos azuis e era muito branquinha. Ela tinha duas amigas de quem gostava muito, a Rita e a Sandra, que eram duas malucas muito grandes, estavam sempre na palhaçada….Estas três companheiras partilhavam momentos divertidos, trabalhavam em conjunto, e são as três algarvias de gema, têm um sotaque muito acentuado e prezam muito as tradições, são muito desconfiadas e não dão o braço a torcer, mas isso nem sempre acontece. Eu conheço um monte de gajos porreiros algarvios. Na minha casa o que não é porreiro não é algarvio. O Algarve é um país a parte, onde se vive bem, há sol, praia e tranquilidade. O mar é azul e quente e as gaivotas passeiam pela costa. O pôr-do-sol é magnífico e a lua ainda mais bela. A noite escura é o que faltava para completar o cenário romântico. Mas o bebé chorou outra vez! A mãe chegou se até ele e tentou acalmá – lo, cantando -lhe uma canção que o conforta e acalma o e por fim o menino adormece e a mãe descansada deixa o filhote a dormir.

Texto:
É importante falar sobre educação e os seus diversos paradigmas, e o que ela pode contribuir para cada um de nós, é a conscientização, o aprender, o aplicar, o saber discutir os nossos problemas. É o ter uma consciência crítica, ser capaz de refutar de uma forma coerente e querer a mudança, pois são muito importantes estes factores para a evolução do ser humano. Para uma conscientização do ser. É preciso utilizar uma consciência crítica no nosso dia a dia como forma de valorizar as pessoas, atitudes e comportamentos. A conscientização é bastante importante, é necessário que as pessoas tomem consciência das suas necessidades e problemas, para assim colmatarem estas necessidades e problemas que tanto afectam a sociedade em que vivemos e não só. Acabar com as diferenças e criar uma sociedade justa, onde todos têm as mesmas oportunidades.

2007-11-16

Sessão de animação da leitura na aula de E.A.I

A animação da leitura

Texto de apoio:
Para motivar os jovens e adultos a ler é preciso criar estratégias de animação que as estimulem para o prazer da leitura. Por um lado há que estimular a curiosidade, deve criar-se condições para que falem acerca das suas leituras e, por, último, há que dar bons exemplos, mostrar interesse por aquilo que lêem, demonstrar que é importante a leitura. A animação da leitura implica estratégias como leitura em voz alta, debate em grupo, elaboração de textos diversos sobre leituras feitas Há uma distinção entre a leitura individual e a animação da leitura. A leitura é um acto individual, voluntário, silencioso, que exige esforço, atenção e concentração num ambiente calmo. A animação de leitura é um acto colectivo, social, dirigido que implica ruído, mobilidade com um carácter lúdico, festivo e gratuito. Não há receitas infalíveis nem fórmulas mágicas, mas deve haver uma grande diversidade de estratégias. Somos o que lemos. Quem nunca leu ou quem leu muito pouco, não conhece nem o mundo em que vive nem os mundos que podemos sonhar. Quem lê, vê mais; quem lê, sonha mais; quem lê, decide melhor; quem lê, governa melhor; quem lê, escreve melhor. Poucos são os actos que valorizamos e que praticamos que não possam ser melhorados com mais leitura. Recomendar a leitura de livros é tão importante e tão inútil como recomendar que se beba muita água. É bom leitor quem transformou o acto de ler numa necessidade e num instinto primários. Ler é um remédio santo para a mais complexa das doenças que é a solidão. Ninguém está só, havendo um livro para ler. E se tivermos um livro para escrever, então somos muitos. Ler é saber compreender, interpretar, e essa interpretação não é única, depende de cada pessoa, do seu contexto de vida, da sociedade, do trabalho, da família, da época, etc… Um texto para ser "legível" depende desses factores e também depende do leitor virtual que se insere dentro do texto, pois se a relação entre o leitor virtual (leitor para que o autor destina o texto) e leitor real (pessoa que lê o texto) é muito distante, fica difícil haver compreensão. E o que é compreensão? Para Paulo Freire (1992) "A compreensão do texto a ser alcançada por sua leitura crítica implica a percepção das relações entre o texto e o contexto", ou seja, entende-se a partir do que se conhece do contexto falado no texto, então a compreensão do texto é mais importante do que a simples descodificação das palavras, a compreensão faz com que a leitura seja um momento crítico. Um texto pode ter vários sentidos escondidos que somente com essa leitura crítica podemos compreender.

A aula de animação da leitura consistiu na análise do texto de apoio. Depois passou-se à realização da sessão:
1- Jogo de expressão corporal
2- Leitura oral de excertos do livro de José Saramago: O Evangelho segundo Jesus Cristo
3- Debate
4- Produção escrita de textos colectivos
5-Leitura de textos


A seguir apresentam-se alguns dos Textos produzidos

Texto 1:
Começou por ser uma conversa tranquila, mas quando um dos elementos proferiu a palavra, de forma agressiva todo o grupo parou, no entanto foi retomada a conversa, e surgiu um grande debate onde ninguém se entendia. Toda a gente falava ao mesmo tempo! “Que falta de civismo” Pensava eu, mas que poderia fazer? A idade é um estatuto! Não será a idade a maneira que algumas pessoas usam para se tornarem mais confiantes. Sem dúvida há pessoas que usam a idade, para procurar atingir objectivos, às vezes utilizam-na de maneira errada…mas cada um com a sua opinião deverá ter em respeito a opinião também dos outros, pois, vivemos em sociedade e nem sempre os outros pensam da mesma forma.
Os olhos são o reflexo da alma, a nossa consciência de olhar a realidade, o mundo, e
conseguimos interpretá-la é a nossa ferramenta, o contrário do vocábulo ignorância. A ignorância não nos leva a lado nenhum, só nos prejudica, pois quem é ignorante nunca saberá o que é a verdadeira educação.

Texto 2:
Era uma vez dois patinhos amarelos que queriam ser grandes voadores, pois, gostavam muito de observar tudo de cima para baixo e a uns grandes metros, no entanto tinham medo das alturas, assim tiveram que pensar numa alternativa, lembraram-se então de pedir ao mestre pato, um velho sábio, para lhes ensinar a ler e escrever! Estavam velhos mas queriam muito aprender! Nasceu assim a Educação de Adultos! Estavam felizes por se sentirem úteis! Que a sua sabedoria seria útil para tantas pessoas como ele! Era este o caminho a seguir, ajudando, ensinando e aprendendo uns com os outros, e aprendendo eu mesma com essas mesmas pessoas, pois através da troca de experiências podemos aprender e muito, e isso é que é importante, aprender e desenvolver uma consciência crítica é a base fundamental da educação de adultos, mas sempre valorizáveis. Valorizar o que temos, o que somos, o contexto, o mundo ou seja, quem somos e onde estamos, é para mim uma dádiva. A importância da humildade para mim é fundamental!É bonito ser humilde, é bonito darmos valor ao que temos e lutarmos pelo que acreditamos.

Texto 3:
Natal é sempre o fruto que há no ventre na mulher.(Ary dos Santos). Natal quer dizer nascimento, porque foi nesta altura que nasceu Jesus. Natal é tempo de compras onde todos dizem ser amigos, mas mais do que nunca vimos pobres e sem-abrigo a pedir que olhem para eles como seres humanos que são. Não é justo a fome no mundo. O dinheiro parece que estraga e compra tudo, tanto a nível emocional como pessoal. O dinheiro não é tudo na vida, pois não há outros casos mais importantes como a felicidade e amizade. A amizade é uma dádiva. Eu gosto muito de ter amiguinhas, eu tenho a Chica e a Francisca que são duas amiguinhas do peito, são umas fofinhas. Estas têm umas bochechas muito fofinhas que só dá vontade de apertar e levava o dia todo a apertar as bochechas, claro! No que estavam a pensar? Pensar... em coisas boas, como comer, passear, sair à noite,... namorar... é muito bom, faz-nos sentir bem e alegres. Foi uma noite que recordaram para toda a eternidade, porque divertiram-se imenso e fizeram coisas que iam fazer pela primeira vez.


Texto 4:
Era um dia lindo! Acordei ao teu lado e vi esse teu sorriso, esse teu olhar que me mata! Um beijo. Para ti meu amor. És tu que fazes sentido na minha vida. És o ar que respiro, a força para eu viver. Dá-me mais um beijo. Só mais um. E serei a mulher mais feliz do mundo! Mas ele não deu o beijo onde ela desejava, deu-lhe um beijo na testa, e disse-lhe que lhe tinha respeito, para podermos viver em sociedade, pois o respeito é a base para uma relação positiva. É importante existir estabilidade num relacionamento. Só estamos bem com alguém se estivermos bem connosco, seja este relacionamento a que ....(impreceptivel). Com isto somos capazes de superar as dificuldades que vão surgindo ao longo da vida a dois, para que haja uma relação que por sua vez irá das os seus frutos, é necessário haver compreensão, cumplicidade e acima de tudo muito amor e amizade.

Texto 5:
Era uma vez um menino pequenino que gostava muito de passear com a mãe e o pai, gostava de ir brincar no parque da cidade em Faro. Este menino era muita traquinas, gostava de estar com os amiguinhos, brincava imenso e jogava muito a bola, o que fazia estar sempre com nódoas negras e ouvir sermões dos pais devido à sua rebeldia, mas no fundo ele gostava muito deles. Talvez quando for mais adulto perceba que as pessoas são todas iguais e que Deus é um só. Será? Efectivamente há coisas que só se podem pedir a Deus! Saúde por exemplo. Será mesmo que quando uma pessoa está doente pede saúde a Deus e lhe é dada por este? Se assim fosse estaríamos todos bem de saúde. Temos que ser condutores do nosso próprio destino. Pelo menos nós que vivemos aqui deste lado do globo não temos que nos preocupar com isso ou será que temos? Será que o que acontece aos outros é pior do que acontece às sociedades, aos países pobres em que há pessoas que passam fome? Ficam aqui estas questões…

A propósito de uma convidada da Biblioteca Municipal

Texto 1
No dia 7 de Novembro o professor convidou para a aula a Sandra, uma trabalhadora da Biblioteca Municipal de Faro que, está também, a acabar o curso de Educação e Intervenção Comunitária.
A Sandra trabalha na Biblioteca à 8 anos e já tem formação académica na área de bibliotecária. É um trabalho que parece gostar muito, pois fala dele com muito entusiasmo.
A Biblioteca Municipal de Faro já esteve situada em alguns locais, inclusive, chegou a ter um espaço conjunto com a Fundação Calouste Gulbenkian. Hoje em dia e, depois de uma construção de raiz em 2001, a Biblioteca é completamente nova e toma pelo nome de Biblioteca António Ramos Rosa. O seu principal objectivo é o de promover o livro e a leitura.
A Biblioteca desenvolve várias actividades em vários domínios, contudo o que nos interessa mais são aquelas desenvolvidas na área da Educação. A Sandra deu-nos alguns exemplos de actividades, nomeadamente, as conferências, os debates, as sessões com contadores de histórias, os escritores que usam o espaço da Biblioteca para fazer lançamentos / apresentações dos seus livros, os círculos de leitura, as acções de formação, que não são feitas com muita frequência pois implicam um maior investimento de fundos monetários, as sessões de esclarecimento e, ainda, os sábados em família, com os quais a Biblioteca pretende integrar os pais nas actividades que desenvolve, apresentar um programa de fim-de-semana diferente e em família.
Para terminar, a Sandra falou ainda um pouco sobre o papel que o Educador Social pode desempenhar numa biblioteca, como por exemplo na área da Animação de actividades (esta é também a área em que a Sandra se encontra agora), na vertente cultural ou no contacto com o público.
(Ana Rodrigues)

Texto 2
No dia 17 de Novembro recebemos na aula de Educação de Adultos a bibliotecária Sandra, da biblioteca Municipal de Faro, que nos veio informar sobre a mesma biblioteca. Esta senhora começou por partilhar connosco que a biblioteca primariamente, em 1902 estava na cidade velha e que mais tarde se mudou para a sala Gulbenkian. A bibliotecária relatou-nos que entrou para a biblioteca em 1998 como técnica da mesma.
Também nos falou das áreas de educação de adultos, onde se organizam debates, conferencias, actividade Pais e Filhos, além de contadores de historias para crianças e ainda o circulo de leitura da biblioteca sobre questões temáticas e pertinentes e com estas actividades tentam promover o livro e a leitura, oferecendo diferentes oportunidades de ocupar os tempos livres. Para além destas actividades organizadas dentro da biblioteca existem ainda actividades exteriores realizadas em prisões, hospitais, ou seja, criaram uma biblioteca para a população que não tem acesso a essa.
Como conclusão a bibliotecária Sandra referiu que julga o educador social muito importante na biblioteca, pois irá promover as ideias e será inovador, até porque este pode exercer a animação sociocultural para com o publico e divulgar a cultura, mas para isso é preciso este funcionário saber estar.
(Sandra Silva)

Texto 3
Na última aula, e a convite do professor Joaquim do Arco veio à nossa sala uma ex-aluna do curso de Educação e Intervenção Comunitária, que se encontra a trabalhar na Biblioteca Municipal de Faro. Esta sua intervenção, veio prestar-nos alguns esclarecimentos sobre a forma como a biblioteca se dedica à educação de adultos e não só. Começou por nos contar um pouco da história da biblioteca, e que em 2001 se procedeu à construção da nova biblioteca. É constituída por três espaços entre eles: audiovisuais, espaço infanto-juvenil e adultos, todos eles com infra-estruturas adequadas ao público, quer sejam crianças, idosos ou deficientes. Na vertente de adultos são efectuados debates, conferências e mensalmente são efectuados círculos de leitura, em que é escolhida uma obra e é debatida entre os participantes. Estes círculos de leitura tem como objectivos promover o livro, a leitura e essencialmente dar a conhecer novas valências da biblioteca. São feitas apresentações de livros, lançamentos de livros de escritores algarvios, tem efectuado conferências com psicólogos, são realizadas acções de formação entre outras actividades direccionadas aos adultos como forma de aprendizagem ao longo da vida. Em relação ao público infanto-juvenil, são efectuadas mensalmente várias actividades entre elas: Sábados em família, música, contadores de histórias, escritores etc. Os Educadores Sociais quando estiverem a desenvolver o seu trabalho nesta área deverão ser inovadores, promover a biblioteca enquanto meio de aprendizagem ao longo da vida, divulgar a cultura e conseguir arranjar estratégias para chamar o público à biblioteca, sendo bastante valorizado o contacto com o mesmo. A par de tudo o que já foi dito, a biblioteca tem ainda alguns projectos que considero de louvar, entre eles “Leituras na Prisão” em que levam livros mensalmente à prisão para que os reclusos possam ocupar o seu tempo e a sua mente, de uma forma saudável. Outro dos projectos é “ Leituras no Hospital” em que levam livros às crianças que estão hospitalizadas, como forma de minimizar o seu sofrimento e de mantê-los distraídos dos seus problemas de saúde. Resta-me concluir, que a Biblioteca Municipal de Faro tem tentado fazer cair aquele estereótipo que todos nós já tivemos um dia, em que consideramos que as bibliotecas são sombrias, feias e sem graça, que só lá vai quem se dedica à investigação. Consta-me que tem tentado demonstrar à população que tem mais valências do que aquelas que muitos imaginam, proporcionando momentos de interacção e integração entre o público alvo.
Lénia Gonçalves

O dia 17 de Outubro na aula de E.A.I

A propósito do dia 17 de Outubro…

“ O Mundo só pode ser
melhor do que até aqui,
- Quando consigas fazer
mais p’los outros que por ti”
(António Aleixo)

Não é a mais sentida e muito menos a mais visível, mas a pobreza de espírito, de ideais, de sonhos, consequentemente “filha” da pobreza real, palpável, visível, mal-cheirosa, assassina de mentes e corpos! Não é a mais sentida, felizmente, e felizmente também, passou longe de António Aleixo que “enriqueceu” sempre a sua pobreza material com a ironia, com a métrica perfeita das suas quadras, e “alimentou”, segundo Natália Correia, os “subalimentados da cultura”, a quem ela avisava que a “poesia também se come”, mas onde nas mesas fartas não era servida, não cabia, essa cultura. Ah! Mas comiam-na.
Nas ruas por onde ele, de barriga vazia, mas cabeça cheia e bem nutrida de sonhos e consciência, vendia a “sorte” a quem passava e oferecia uma “definição” de VIDA, repentista e quase sempre certeira e descritiva das qualidades e defeitos do “presenteado”. Ele nunca deixou de alimentar o sonho, o “tal” que faz caminhar, e não nos deixa esquecer que em qualquer lugar, no fim do arco-íris está “aquele” pote que nunca ninguém encontrou, mas que não deve deixar de procurar. Nunca.
Depois do convidado, Dr. José Amaro, assessor do Presidente da Câmara Municipal de Faro, nos ter quantificado o que todos vemos nas ruas e jardins de Faro, e nos ter relembrado que a distância entre Faro e as suas Freguesias Rurais, torna o concelho disperso e facilita o “tapar” de situações de pobreza extrema, FOME MESMO. Depois de nos ter avisado que foram identificadas mais zonas onde a pobreza impera, camuflada, é quase como convidar-nos à revolta, ao desejo de lá ir e de ajudar. Mas isso são desejos que postos em prática, só poderão resolver uma situação pontual e demonstrar mais uma vez que “quem precisa, precisa sempre e que quem ajuda não pode ajudar sempre” e que ninguém tem “direito” a ter o seu “pobrezinho” particular que ajuda a acalmar consciências e adormecer a legítima indignidade que tal situação tem o dever de provocar.
“Quando a noção do dever
nos der ampla liberdade,
acabará por esquecer
a palavra “caridade”
(António Aleixo)

O Banco Alimentar, a rede, que se pretende mais completa e abrangente, de cuidados domiciliários de ajuda aos mais idosos e doentes, aliviando a carga de familiares tantas vezes mais que sobrecarregada pelo peso da própria vida, o diagnóstico dos problemas existentes no concelho e algumas metas e processos de intenção (algo vagos) para a sua resolução, deram-me a sensação de estar a utilizar paliativos, só!
Tudo é louvável, tudo demonstra pelo menos que não existe uma total insensibilidade e desconhecimento de uma realidade que é impossível ignorar, pois nem é necessário procurar muito para esta realidade nos entrar pelos olhos, na nossa terra, para nos entrar pela nossa casa, a do país e do mundo, através dos media. Mas também as causas que provocam esta exclusão social (o encerramento de fábricas, a precariedade do emprego, a sensação de falta de segurança que é transmitida a quem vive do seu salário e que a quem só é permitido sonhar a prazo) a quase aniquilação da classe média tornando o fosso entre os ricos e pobres cada vez mais profundo e largo, faz-nos reflectir, e na quentura da indignação surgem-nos frases feitas e batidas como “tanta casa sem gente, tanta gente sem casa”, as cotas impostas pelo mercado que fazem com que alimentos sejam enterrados e jogados fora, em nome de uma economia de mercado, e onde tanta “gente sem casa” é também tanta “gente sem pão” que a reflexão nos leva a sonhar com uma articulação de esforços que faça com que o excesso possa suprir a necessidade. Que nos desperta sentimentos de necessidade de uma justiça célere, que gostaríamos de partilhar com o PODER LOCAL e que este tomasse medidas relacionadas, dentro de toda a legalidade democrática, sobre “tanta casa sem gente”, e respeitando o direito à propriedade privada, exigisse desses proprietários que as querem manter vazias, o dever de as conservar em perfeitas condições, para não representarem um perigo para a integridade física de quem passa junto delas (muitas em risco de queda), para a saúde e segurança, pois, quase sempre são arrombadas e servem para os mais diferentes fins (oferecendo tecto aos sem abrigo, e devido à falta de higiene praticada por quem já desistiu de tudo e já se esqueceu da dignidade com que um ser humano deve viver, oferece também tecto a uma infindável bicharada que alegremente partilha espaço com pedaços de roupa suja, seringas usadas e possívelmente infectadas, restos de comida.
“Quando um náufrago se estafa,
julga ver – triste ilusão! –
na rolha de uma garrafa
a bóia de salvação!”
(António Aleixo)

Tudo isto paredes meias com casas habitadas por famílias mais ou menos estruturadas, onde existem filhos (crianças) que se desejam curiosas, e portanto em risco quase constante.Não conhecendo legislação e atirando para discussão ideias, que me parecem oferecer soluções para retirar das ruas e oferecer uma cama, um chuveiro, um tecto, limpos a quem deles necessita, pergunto se não seria possível estudar a hipótese de permuta com esses proprietários relapsos, propondo por exemplo, ou a conservação de suas propriedades ou a recuperação camarária e o direito de utilização por determinado espaço de tempo, dessas instalações, como albergue, abrigo temporário (sem imposição de data de saída fixa para os casos que ainda não tenham encontrado solução) ou mesmo realojamento, evitando assim a criação de guethos e promovendo a inclusão social de pessoas que parecem já ter desistido da vida e a quem às vezes só falta o calor de uma mão, que há muito não lembram, a preocupação de um outro ser igual. E que tal promover umas formações de acordo com as competências, que um avaliador qualificado, detecte que sejam necessárias para o reaprender da vida em sociedade? E o resgatar da saúde física e mental, perdida nesses tempos de excessos ou de uso das únicas substâncias de que dispunham e os “alimentava” para os que dessa recuperação necessitem e requisitem? E ao mesmo tempo procurar saber se existem programas, ou criar programas de formação profissional e cívica que integrem essas pessoas no trabalho e lhes confiram a dignidade de um salário, fazendo com que deixem de sentir essa formação como um tempo morto ou de ATL, e que terminado este, sejam devolvidos, outra vez, ao lar que não existe, mas com mais formação e desperdício de recursos, porque foram gastos sem perspectiva de utilização, aproveitamento.
Viver com esse grupo de pessoas, sentir as suas necessidades, adivinhar os seus sonhos, dar-lhes o nosso tempo. Todo o necessário, sem regatear, e devolver-lhes a confiança que lhes permita traçar objectivos, construir um projecto de vida, orientá-los nesse sentido e cobrar também a falta de empenho para os conseguir, se for caso disso.
Porque não, para além da devolução da dignidade e de tudo o que isso representa até para o exercício da nossa própria dignidade, tentarmos acabar com a pobreza geral, com o suicídio social?Com vontade, com voluntarismo, e principalmente com vontade política e com a articulação de todas as infra-estruturas existentes, e de algumas que fossem necessárias criar (e que para a recuperação de um ser humano nunca se poderá considerar caro).Não esquecendo a pobreza extrema, resultante da falta de pão, saúde, habitação e que necessita de uma resposta célere, porque MATA. Podemos “atacar” também a OUTRA pobreza que inequivocamente levará a esta. (em relação a respostas rápidas, agradou-me imenso ouvir, por parte do Dr. José Amaro, que vão tentar eliminar a burocracia e acelerar a entrega de alimentos a quem deles necessita de imediato.) Considero uma decisão acertada e justa, e que contribuirá também para o contentamento dos voluntários que acreditam estar a ajudar na eliminação de um problema tão doloroso. Efectivamente, perante a dúvida de estarmos a ser “enganados” ao sermos solicitados para uma intervenção rápida de entrega de alimentos, considero preferível entregar um pão do que esperar um mês pelo processo que é necessário decorrer para fazer essa entrega. Há que ter sensibilidade para detectar situações limite. Até pode acontecer que passado um mês de burocracia, o pão já esteja duro e a boca que o pediu já não se abra nem para o agradecer. E se não MATA no imediato, aniquila, entretanto.Num estado de direito e de direitos (inclusive os humanos) é nossa obrigação, população e poder local, exigir uma política séria e cumpridora de inclusão social ao poder central, porque importantes, importantes são as PESSOAS. O TGV e a OTA também, mas há que definir prioridades. É nossa obrigação lutar por, implementar e defender, sem olhar a meios, a justiça social. E aí, quase, ou todos os sonhos podem ser realidade: pão; saúde; habitação; mudança; decisão; educação. LIBERDADE.
“A ninguém faltava o pão
Se este dever se cumprisse:
Ganharmos em relação
Com o que se produzisse”
(António Aleixo)
Temos o direito/dever de “fiscalizar” o que é feito através do Poder Local, das pessoas que o representam porque se disponibilizaram para resolver TODOS os tipos de problemas que já existiam, e que de antemão sabem ou deveriam saber que surgiriam ou poderiam surgir em sociedade, quando se candidatam a esses cargos, para os quais nós os elegemos porque os conhecemos e acreditamos na sua capacidade, no que se refere ao Poder Local, e exigir que exerçam todo o poder reivindicativo junto do Governo, que não nos é tão próximo. Acredito que na vida e no mundo o mais importante são as pessoas e que todos, sem excepção, temos uma infindável “lista” de deveres e direitos. Que partamos, todos, em igualdade de circunstâncias para esta aventura que é a vida, e que à medida que por circunstâncias várias e alheias à nossa vontade, percamos capacidades, tenhamos sempre outro igual que nos ampare, uma instituição que nos apoie, um modo de viver até ao fim, com dignidade, alegria, amor. Será isto que está dentro do pote, que se encontra em algum lugar do arco-íris? Vou continuar à procura para confirmar.Desde que tenho filhos, e já lá vão uns anos bons, quando vejo a solidão, a tristeza, a miséria, o abandono e a fome não deixo nunca de pensar que todos fomos, nem que só por um momento, “o menino de sua mãe” e que todos os sonhos sonhados para o menino de sua mãe ali não estão, e que todos temos que criar condições para que pelo menos os sonhos/direitos sejam uma realidade defendida e garantida por nós.
E aí, o dia 17 de Outubro será a recordação de um dia longínquo em que se diagnosticavam situações de pobreza extrema e se preparavam estratégias para a minorar até se conseguir extinguir. E então celebraremos o 17 de Outubro como o dia da vitória sobre um flagelo que a VONTADE de SER DIGNO E PROMOVER A DIGNIDADE derrotou. (mas comemoraremos de olhos bem abertos para não deixarmos que o ciclo se volte a instalar e os filhos dos pobres sejam sempre pobres assim como o dos ricos sejam sempre ricos)
Isto bem repartidinho
Dá p’ra todos e sobeja”
(António Aleixo)
Todas estas quadras de António Aleixo, que ilustram esta reflexão (que não é síntese), não é fixação pelo poeta e poderão não ser as que melhor definem o tema na altura em que são introduzidas, mas nunca estarão deslocadas, porque falam de miséria e fome com as quais o poeta teve sempre uma relação muito íntima.)
(Élia Parente)

Síntese sobre o Banco Alimentar

No passado dia 17 de Outubro de 2007, o Sr. José Amaro, assessor do Presidente da Câmara Municipal de Faro, prestou aos alunos do 2º ano do curso de Educação social, uma sessão de esclarecimento sobre o Banco Alimentar e diversas problemáticas existentes no concelho de Faro. Esse esclarecimento veio a propósito de nesse dia se celebrar o Dia Mundial contra a Pobreza e a Exclusão Social. O Banco Alimentar é uma marca, que tem nome, tem prestígio e como tal, há uma grande adesão por parte da população. Tem-se verificado com o sucesso das últimas campanhas. Segundo o Sr. José Amaro, a criação do Banco Alimentar deveu-se essencialmente às carências da população. Sendo uma população muito envelhecida, com sensivelmente 13.618 reformados e pensionistas. Sabendo nós que a nível nacional as reformas dos idosos mal dão para os medicamentos, e que muitos dos nossos idosos vivem momentos de grande aflição, de miséria escondida pela vergonha de nada ter para comer, sentem-se personna non grata por parte do nosso governo, poderia o caso de Faro ser diferente!!! Não claro que não!! Aqueles que tanto contribuíram para o desenvolvimento do país vêem-se agora excluídos de uma sociedade capitalista que não tem lugar, para aqueles que tudo merecem. Como referiu o Sr. José um dos grandes problemas no concelho de Faro é o facto da população se encontrar muito dispersa (freguesias rurais) o que gera o isolamento dos idosos. Foi criado há sensivelmente 2 anos um projecto de âmbito municipal, Oficina Domiciliária que consiste em prestar auxilio aos idosos na resolução de problemas domésticos que possam surgir, decerto virá colmatar algumas carências e ajudará na resolução de alguns problemas técnicos. No entanto, será este o projecto que mais precisam os nossos idosos??, o ser ouvido, o contar as suas histórias de vida, relembrar os seus tempos de mocidade, mantê-los activos, não será mais urgente?
Considero uma lacuna o facto do B.A. não prestar apoio imediato, ou seja, a população carenciada ter de aguardar um mês pela atribuição de alimentos, quando a sua necessidade é diária. E as instituições que tem à sua responsabilidade tratar destes casos como permitem que tal suceda e a população seja privada daquilo que é mais elementar para o ser humano, a alimentação! Resta-me concluir que esta problemática social é um círculo vicioso, a pobreza leva aos sem-abrigo, à toxicodependência, que leva à insegurança que leva à exclusão social. E nós futuros Educadores Sociais cabe-nos deixar os sonhos de lado, e delinear estratégias para modificar ou atenuar tanta desigualdade na nossa sociedade.
(Lénia Gonçalves)