2009-12-22

Uma história que podia ser de natal....no tempo em que os animais falavam

O Homem, a cobra e o ouriço-cacheiro

Havia um guardador de rebanhos que pastoreava o seu gado numa encosta de um monte onde havia um moledo de pedras de onde apareceu uma pequenina cobra.
O pastor e a cobra fizeram-se amigos, tendo o pastor começado a chamar de “menina”.
O pastor, todos os dias, quando se aproximava daquele local chamava a “menina”, à qual dava leite tirado do seu rebanho. E assim se foi reforçando uma grande amizade entre eles.
Mas, um certo dia, esse homem pensou em vender o rebanho e ir viver para a cidade, onde ficou muitos anos sem saber nada da sua amiga “menina”.
Ao fim de muitos anos regressando às origens, passou um dia por aquele local e disse para um amigo: “nestas pedras vivia uma cobra a quem eu chamava de “menina” e que todos os dias vinha ter comigo. Parece-me que, se ainda hoje a chamasse, ela aparecia”.
E então começou a chamar: “menina, menina, …” e apareceu um grande bicho que se aproximou convencida que ele tinha leite para lhe dar. Mas como tal não aconteceu, ela ficou muito furiosa e queria matá-lo. Mas depois, num diálogo entre eles, o homem começou a querer convence-la de que não era justo ela lhe querer fazer mal, porque ele já lhe tinha feito muito bem. Mas ela disse que o “bem” se pagava com o “bem-mal”.
Como não chegaram a consenso, acordaram ir correr mundo para perguntar a todos os animais qual era a sua opinião sobre o caso.
Puseram-se a caminho e a cada animal que encontravam perguntavam:
- O bem paga-se com o “bem” ou com o “bem-mal”?
E por estranho que pareça todos os animais respondiam que era com o “bem-mal”.
O homem Já estava a ficar sem esperanças em relação ao seu destino, ate que se aproximaram de um ouriço-cacheiro e perguntaram: “amigo, o “bem” paga-se com o “bem” ou com o “bem-mal”? E o ouriço-cacheiro respondeu: - o “bem” paga-se com o “bem” e se precisares de alguma coisa junta-te a mim. O homem aproximou-se do ouriço-cacheiro, pôs-lhe a questão e pediu-lhe ajuda.
Começou então uma luta entre a cobra e o ouriço-cacheiro, tendo o ouriço matado a cobra com os seus bicos. E assim salvou o homem de uma morte que ele já julgava não ser possível evitar.
Por isso se diz que o ouriço-cacheiro é um grande amigo do homem

Autora: Matilde Cabrita; 60 anos

Trabalho de recolha: Andreia, Filipa, Silvias, Leila, Tânia (2º ano-pós laboral)

BOAS FESTAS

É NATAL ...

Se cristo nascer:
Nas crianças assassinadas…
Nos idosos marginalizados...
Nos jovens viciados...
Nos operários explorados...
Nos homens desempregados...
Nos casais destruídos...
Nos filhos desprezados...
Nos pais abandonados...
Nos povos explorados...
Nos povos oprimidos ...
Nos povos subdesenvolvidos...
Nos homens sem abrigo ...
Em todos os que sofrem no corpo e na alma.

FELIZ NATAL

Só será quando desaparecerem:
A injustiça;
A miséria;
A fome;
A ignorância;
A pobreza;
A insegurança;
A violência;
A exclusão;
O racismo;
Descriminação;
Rejeição;
O desemprego;
O terrorismo;
A vingança;
Toda a espécie de exploração.

2009-12-21

“Se vais snifar cocaína, muda de narina!”

O IDT lançou este slogan num flyer, acompanhando uma campanha de prevenção. Esta campanha, segundo apurado tinha como objectivo um tratamento de choque. A acção de choque parece ter como objectivo a tomada de consciência do consumidor de que já não se espera que termine de consumir, mas que pelo menos cuide um pouco da aparência, trocando de narina. A ironia do Slogan refere-se à deterioração das “narinas” quando sujeitas a um alto consumo de cocaína, apelando a todos que se previnam. Este slogan procura prevenir a população de começar a consumir ou de continuar a consumir, usando uma mensagem de objectivo oposto. Parece-me que este slogan procura sensibilizar a população através do choque, procurando transmitir que já não há esperança para a toxicodepêndencia, mesmo havendo. Desta forma questiono-me sobre até que ponto deve um slogan fazer tal juízo? Tudo depende da interpretação do público-alvo.
No entanto, este Slogan pode ser interpretado também de uma forma bastante oposta. A frase poderá ter um significado metafórico, como se snifar cocaína por uma narina fosse uma opção, e a narina a trocar, o fim do consumo. Mostrar que existem outras opções, e que todos temos opção de escolha. A frase apela à mudança e à liberdade de escolha.
O Educador Social deverá divulgar a informação por toda a população, procurando educar os indivíduos numa linha de vida saudável sem comportamentos de risco. Capacitar os indivíduos em transformar o seu próprio meio e a sua própria comunidade, de forma a que Slogans como estes tenham resultados positivos.


Trabalho elaborado por:
• Ana Madeira, nº36926.
“Se consumires cocaína, não uses sempre a mesma narina”

Cada vez que pego num cigarro maço leio no exterior do maço, em letras tamanho 50 bold para que não restem dúvidas de que ainda sou capaz de as decifrar: “FUMAR MATA”. No outro lado do pacote está escrito com letras igualmente gigantes: “FUMAR PROVOCA O CANCRO PULMONAR MORTAL”.
O que acontece quando acabo de ler estas recomendações?
Tiro o cigarro e fumo. Termino este, depois outro e mais tarde ainda um outro. No dia seguinte, repete-se a cena.
Sou adulta, conheço os malefícios do tabaco, tenho consciência de que estou a destruir-me (mas de uma forma legal!), sei que estou a alimentar uma estupidez …e ignoro os avisos. São para os outros, talvez para aqueles que não fumam!
A publicidade é uma arte e como tal, deve ser apreciada, entendida, “esmiuçada” e desconstruída com um olhar muito atento. Ela co-habita connosco, cruzamo-nos na rua, atrapalhamo-nos nos outdoors em cada esquina, espalha-se pelos passeios e até nos surpreende no céu.
A publicidade é uma arma de dois gumes. Um deles chega-nos sorrateiramente e desperta a nossa curiosidade, enquanto o outro, nos provoca arrepios misturados com uma dose de repugnância mas desperta a nossa curiosidade também.
Na realidade, cada um de nós reage de maneira diferente ao impacto de um qualquer slogan, seja ele de cariz amistoso ou de cariz chocante.
Não acredito que o choque assim como a proibição ou o castigo conduzam a um resultado positivo, principalmente quando se é jovem ou dependente de qualquer tipo de vício.
Como será possível minimizar estes problemas, não só o da “malvada” cocaína mas tantos e tantos outros, que como nós sabemos, existem na agenda do nosso mundo?
Será a prevenção uma boa aposta? E a educação?
Troquemos-lhes apenas a ordem. Vamos educar a prevenir?
Vamos aprender! Vamos ensinar para juntos conseguirmos prevenir!
Acredito que a semente tem que ser cuidada desde que é deitada à terra, assim como ainda acredito que algumas plantas podem ser recuperadas mesmo depois de crescidas.
Porque não um Educador Social para as ajudar a tratar?

Isabel Saúde, nº 36762
“Se vais snifar cocaína, muda de narina”

Esta frase foi utilizada pelo IDT numa campanha de prevenção á toxicodependência. Na minha opinião, como frase preventiva, não atinge o pretendido. Sabemos que em qualquer situação de acção de formação, seja ela formal ou informal, devemos ter em conta a heterogeneidade dos grupos em questão. Nem todas as pessoas têm conhecimento da maneira como esta droga é consumida. Esta frase é compreendida entre os grupos de toxicómanos uma vez que os mesmos sabem a maneira como é consumida a cocaína (inalada) e as consequências do seu consumo. E neste grupo talvez esta frase faça sentido e assuma uma forma de reflexão e possível mudança de hábitos, não sendo de qualquer maneira por si só suficiente. Poderá ser o motor de arranque para que toxicodependentes assumam o seu problema e aceitem ajuda exterior.
Num outro grupo, jovens por exemplo, que não tenham tido contacto directo com drogas, a frase teria de ser repensada para que assumisse a sua vertente de prevenção de consumo de drogas, mantendo uma frase forte e firme, chocante talvez, mas que pudesse ser compreendida aquando da sua leitura. Compreendida de tal maneira que leve os jovens a querer saber mais num sentido informativo. Saber no que consiste, o que provoca, que efeitos tem a curto e a longo prazo. Talvez avaliar se as consequências superam o prazer do momento.
A toxicodependência é um assunto já bastante debatido na nossa sociedade. Existem várias campanhas, varias formações, vários exemplos. No entanto todos os dias há novos jovens a entrar no mundo das drogas. Este facto deve então fazer-nos pensar! Fazemos tudo o que é suficiente e necessário em termos preventivos? Ou temos de remodelar a forma como estamos a colocar esta questão?

Ana Simões nº36759

2009-12-20

Se vais snifar cocaína muda de narina


Como mensagem de prevenção ao consumo de cocaína não considero de todo que a frase tenha sido bem transmitida nem de fácil compreensão.Quando se quer atingir um público alvo especifico: jovem,em idade escolar ou mesmo população em geral, não se deve usar mensagens dúbias ou de dificil entendimento.O facto de se metaforizar tanto a mensagem faz com que a mesma seja entendida de forma incorrecta, ou que não seja entendida.
Por achar a frase tão absurda, "dei-me ao trabalho" de comentar esta frase com um grupo de pessoas de 19 anos, resultado: não entenderam,não acreditaram que a frase tivesse sido usada para esse fim,nunca a ouviram e nem perceberam que era de prevenção.Não considero a frase chocante, nem de reflexão.Como tal considero completamente falhada a comunicabilidade subjacente à mensagem pretendida pelo IDT.
Em Portugal o consumo de estupefacientes tem aumentado, nomeadamente o consumo de cocaína, é necessário apostar mais na prevenção e em campanhas publicitárias de prevenção nos espaços escolares, mas também nos meios de comunicação mais acessíveis, como a televisão, recordem-me por favor qual a última campanha de publicidade institucional com este tema que tenha passado em horário nobre num dos 4 canais de tv portuguesa.Nem mesmo na RTP1(televisão estatal que não deveria preocupar-se tanto com as receitas que advém da publicidade em horário nobre, receitas milionárias),pois não?Pois é...infelizmente, o consumo de droga, e todos os problemas que daí advém tais como: maior risco de transmissão de HIV, maior risco de relações sexuais desprotegidas,etc., continua a aumentar e é preciso agitar a sociedade civil e trazer o tema com mais força para a agenda política do nosso país,continuar o trabalho que está a ser feito e reforçar o que ainda falta fazer.

Filipa Custódio30627Ed. Social (pós-laboral)
Comentário: “Se vais snifar cocaína muda de narina”

Considero pertinente a mudança de atitudes, de consciências, através de acções que levem as pessoas a pensar e a reflectir seja de que forma for. Nem que para isso, tenhamos que assustá-las com frases chocantes como esta, pois o que se pretende é que a palavra medo emerja no fundo da nossa consciência e nos nossos sentimentos. Impensável deixar de tentar ajudar a encontrar o caminho, a luz no fundo do túnel para aqueles que se “deixam levar” para uma vida sem sentido, pois é possível com a ajuda de nós todos intervindo na procura desse sentido para a vida, para o mundo. Portanto se é preciso agir com frases chocantes, porque não? Se apenas nos resta atingir através de frases cruas e directas, porque não?
Toda a sociedade deveria esta aberta em ajudar o próximo, ao invés de ignorá-los como acontece na maioria das vezes. Todos nós passamos por eles a olhá-los com desdém e poucos são aqueles que param para reflectir e analisar aquela vida. Parece que o mundo ficou indiferente aos problemas sociais que emergem nas nossas ruas. Triste, mas é a verdade.
Ajudar aqueles que andam em caminhos menos bons, acompanhados dessa maldita droga, e ajudá-los a sair do buraco que parece cada vez mais fundo, levando-os a acreditar que ainda podem ser vencedores, poderá ser um trabalho a realizar pelo educador social, pois ele é possuidor de conhecimentos, pois ele pretende a mudança social através de acções que visem o bem-estar daqueles mais frágeis.

Discente: Cláudia Teixeira
Nº38689

2009-12-18

“Se vais snifar cocaína, muda de narina!”

Numa altura em que se fala do Aquecimento Global como primeira prioridade dos governos mundiais;
Numa altura em que todos estamos de olhos postos na destruição maciça das nossas florestas, dos nossos mares, do nosso ecossistema;
Numa altura em assistimos à crescente exterminação das espécies;
Numa altura em que se fala das consequências maléficas e benéficas da globalização;
Numa altura em que se fala de doenças que matam populações indefesas;
Numa altura em que se fala dos números assustadores de pessoas infectadas com o HIV;
Numa altura em que se fala das escolas inclusivas e o respeito pela multiculturalidade;
Numa altura em que se fala no desrespeito pelos Direitos Humanos;
Numa altura em que se fala dos direitos dos homossexuais;
Numa altura em que se fala do respeito e dignidade dos mais velhos;
Numa altura em que se fala da cooperação global e esforços conjuntos para combater os grandes flagelos que assolam o nosso planeta…
… será que não está na altura de começarmos a apostar na prevenção, na educação de todos e para todos, na luta pelos nossos direitos, num planeta respirável, nos nossos deveres cívicos, na nossa participação activa e consciente...
…devemos começar por algum lado… nem que seja por mudar de narina!

Leonor paulino
nº 38338
“ Se vais snifar cocaína, muda de narina”

Esta pode ser designada como uma “frase de choque” que apela à prevenção do consumo de drogas. Incentiva as pessoas a mudar e a fazer com que as mesmas percebam que não existe apenas um caminho e que ainda estão a tempo de mudar e encontrar o rumo certo, como afirma Paulo Freire “Não há vida sem correção, sem retificação”.
A droga é um grande problema de saúde pública, como tal, devem ser implementadas medidas de choque de forma a sensibilizar e consciencializar as pessoas para a dura realidade. É neste âmbito que surge a Educação Social, esta deve contribuir para a realização de campanhas de sensibilização com o intuito de promover o crescimento individual e social das pessoas, ao desenvolver uma consciência crítica que, por sua vez, conduzirá à mudança de atitudes.

Sara Guerreiro
2º ano - pós-laboral

2009-12-17

Comentário: “Se vais snifar cocaína, muda de narina”.

Todos nós temos ou já tivemos um familiar ou um amigo com dependências. Todos sabemos que o nosso apelo pouco altera a situação.
A frase de facto à primeira vista parece ridícula e depois chocante. A verdade é que a cocaína é uma droga que deterioriza a cana do nariz. Consumidores de longa data de cocaína acabam sem cana do nariz, daí a frase do IDT. De facto é chocante para quem ouve esta frase, mas dirigida ao consumidor de cocaína mais chocante é, mas é isso mesmo que se pretende. Quem consome sabe os efeitos nefastos provocados pela droga e conhece muito bem o verdadeiro sentido da frase. Mas na minha opinião o IDT pecou ao não expor o verdadeiro sentido da frase. Para quem desconhece a verdadeira mensagem que está por detrás do slogan, estará pronto para criticá-la e acabará por ser induzido em erro pensando que se trata de um apelo ao consumo mais saudável, quando na verdade não é nada disso.
Quanto à prevenção, na minha opinião, dever-se-á apostar mais na formação, na informação, explicando a todos e sem mensagens ocultas os malefícios da droga. Não é que isso já não aconteça, mas deverá ser feito com mais frequência, através de dinâmicas, interacção, testemunhos de casos reais, etc.
E por que as drogas nunca irão ter um fim, resta-nos apenas apelar e conscientizar as pessoas de forma a levá-las a praticar a mudança. Mudança que não só engloba a pessoa mas sim toda a comunidade. Um trabalho concerteza a efectuar pelo educador social, na procura de uma melhoria de vida de todos. Por que a educação social visa a mudança social, por que pretende uma melhoria de vida e uma resolução de problemas. A toxicodependência é uma situação que exige intervenção e ao mesmo tempo uma reeducação, educação e informação, desenvolvendo formas que contribuam para o desenvolvimento da pessoa, levando-o à reflexão e por sua vez levar a pessoa na sua própria mudança.

Catarina Viegas, nº. 38000
Educação Social (pós-laboral)

2009-12-16

Recensões (regime diurno)

Marta Alexandra Correia - Para uma educação permanente à roda da vida
Dulce Anjos Pais Martins - Pedagogia da Autonomia Saberes necessários à prática Educativa.
Cristiana Portada Pancinha - Introdução à Educação Permanente
Cindy Azevedo Mascote - Evolução do conceito de educação de adultos
Alexandra Isabel Luz - As Ovelhas Negras: uma iniciativa educativa numa universidade da terceira idade
Tânia Sofia Pereira Guerreiro - E.A. Forum II
Rosinda Maria Santinha - Modelos Actuais de Educação de Pessoas Adultas”
Denise Isabel Viegas - A Escola e a repressão dos nossos filhos
Lénia André Brito Guerreiro - Inovação e Mudança em Educação de Adultos
Ana Luísa Batista Filipe - Fórum I -Educação de Adultos
Sofia Isabel Sota - O valor de Educar
Cristiana Paula Nascimento - A Escola e a Repressão dos Nossos Filhos de Ivan Illich
Vânia Maria Brito Saleiro - “A centralidade da educação de adultos em Portugal e a expansão dos espaços de intervenção dos animadores”
José Manuel Simão - Educação Como Prática da Liberdade
Tiago Simão - A educação para o desenvolvimento como estratégia da educação de adultos”
Eliana Martins Faísca -A Importância do Ato de Ler
Sandrina Rosário Pedro -E.A. Educação para o Desenvolvimento
Patrícia Costa Nunes -Fórum I. Inovação e mudança em Educação de Adultos
Isabelle Josephine Fundinger -Fundamentos da Educação e da Aprendizagem. 21 Ensaios para o Século 21 de Roberto Carneiro
Lúcia Filipa Morais Jorge - E.A. Um campo e uma problemática
Leila Patrícia Fernandes - Evolução do Conceito de Educação de Adultos
Ana Micaela Passo Rolão - Educação de Adultos – Um campo e uma Problemática
Carolina Sofia Moreno - Alberto Melo: Que Educação de Adultos para uma sociedade em mutação.
Tânia Martins Matinhos - Importância do ato de ler
Susana Patrícia Inácio - Educação de Adultos, educação para o desenvolvimento
Maria Manuela Costa Paulo- Situação da Educação de Adultos em Portugal
Mariana Silva Caio Brito - Educação Não Escolar de Adultos de Licínio Lima
Mariana Pereira - “Educar é universalizar”, de Fernando Savater

Títulos das recensões críticas (regime pós-laboral)

Catarina Figueira Trouchinho -A Educação de Adultos numa encruzilhada
Maria Manuela Sousa Bastos -Educação de Adultos. Um Campo e uma Problemática
Leila Patrícia Machado - Educação como prática de liberdade
Tânia Santos Jerónimo - A Educação de Adultos numa encruzilhada
Gisela Maria Reis Joaquim - A Educação de Adultos numa encruzilhada
Margarida Isabel Correia - O valor de Educar
Isabel Maria Saúde - Poema Pedagógico I
Emanuela Jesus Mateus - Educação de Adultos/educação para o Desenvolvimento
Maria Adelina Costa -Educação de Adultos. Um Campo e uma Problemática
Daniel Filipe Monteiro - Educação e Mudança
Luís Filipe Santos Manhita - O princepezinho
Sílvia Alexandra Valador - O valor de Educar
Carla Maria Custódio - Educação de Adultos e Educação Permanente
Patrícia Firmino Moreno - Pedagogia do Oprimido
Sónia Quaresma Luz -A escola e a repressão dos nossos filhos
Andreia Filipa Dias Barracha - Educação Não Escolar de Adultos. Iniciativas de Educação e Formação em contexto associativo
Carla Carmo Salvé-Rainha - Educação de Adultos: Um campo complexo em expansão
Aurora Jesus Gomes Teixeira - A Educação de Adultos numa encruzilhada
Florbela Mendes Cavaco - “Educação de adultos e construção da cidadania democrática”
Sara Isabel Afonso Guerreiro - Educação de Adultos: Um Campo e uma Problemática
Ana Luísa Neto Reis Simões - Rousseau
João Filipe Viegas Sousa - Educação como Prática de Liberdade
Dora Cristina Jesus Luís - Educação e Mudança
Maria Leonor Grades Paulino - Educação Como Prática Da Liberdade
Carla Sofia Feliz Rabaçal - A importância do ato de ler
Filipa Cativo Custódio - A Educação de Adultos numa encruzilhada
Sílvia Isabel Vaz - Educação/formação de Adultos
Ana Sofia Palma Madeira - Summerhill School
Ema Cristina Viegas Pereira - A Educação de Adultos numa encruzilhada
Helga Heidi Pinto Jesus - Medo e Ousadia – O contidiano do Professor
Cláudia Teixeira - Pedagogia Social
“Se vais snifar cocaína, muda de narina”


O consumo da droga faz parte da nossa sociedade actual, o uso desta não se refere somente a uma determinada classe social ou faixa etária, está presente no nosso quotidiano, na vida de milhões de pessoas, que pelos mais variados motivos recorrem a “ela “. As dificuldades de integração aos modelos da sociedade e a incoerência desta, são alguns dos principais factores que levam os indivíduos a refugiarem-se nesse mundo alucinógénico como uma forma libertadora da opressão da sociedade à qual muitos indivíduos estão sujeitos. Apesar da sua proibição e das pesadas sanções o consumo e tráfico de droga continua a aumentar cada vez mais mundialmente. Para além das várias políticas envolvidas nesta questão, várias são as campanhas de sensibilização e proibição praticadas pelo Governo e outros organismos, contudo, maioria parecem passar despercebidas à população, tal facto talvez se deva à própria construção frásica pouco apelativo e imaginativa com que estas costumam-se apresentar à sociedade.
A proibição significa a total inexistência de controlo. O discurso proibicionista dá azo à curiosidade, proibir é pretender que a proibição seja uma forma de afastar o uso de drogas. Mas acontece simplesmente o contrário, “ o fruto proibido é sempre o mais apetecido.”
Precisamos mudar a estratégia de combate às drogas de mudanças estruturais e qualitativas.
A frase utilizada numa campanha de prevenção “Se vais snifar cocaína, muda de narina” é testemunho disso, pois a forma socrática com que é exposta, leva-nos a uma reflexão sobre o verdadeiro sentido da mesma. A forma provocante do seu conteúdo, sem dúvida, transmite uma forma indirecta à população em geral, uma tomada de consciência dos malefícios da droga e se realmente, o público-alvo (toxicodepentes) não pensa deixar, então que se cuide (ao menos)
Frases controversas como estas despoletam debates, promovem uma maior abertura e comunicação entre educadores e educandos, permitindo ao esclarecimento, formação e conscientização dos futuros “ homens de amanhã.”
Enquanto Educação de adultos, cabe-nos a nós sermos os condutores de uma educação saudável de orientação social e moral, promovendo à mudança de atitudes, de valores, promovendo o diálogo através de uma acção participativa de toda a comunidade.

Florbela Dias
Aluna 38116
2º Ano do Curso Educação Social (Pós-laboral)

2009-12-15

Se vais snifar cocaína muda de narina

Fora de contexto esta frase revela exclusão aos indivíduos que são consumidores. No entanto a força e até a agressividade empregue, “obriga” que qualquer um pare e tente perceber o seu real sentido. O que se passa? Será que alguém enlouqueceu? Que expressão é esta?
A meu entender, a prevenção primária tem que ser mais agressiva com uma visão mais ampla de quem quer chamar a atenção. A prevenção não consegue um trabalho com êxito com a palavra: NÃO! Porque será que isso acontece?
A meu entender a palavra não, só revela a renúncia de algo, que nem sempre atinge o alvo. Não deves comer comida de plástico! Não deves fumar! Não deves consumir drogas! Não deves conduzir depois de beber! Não! Não! Não!
Quem trabalha com crianças pequenas, sabe que a palavra não, deve ser evitada. Porquê? Porque atrai mais o seu desejo e vontade de experimentar o que lhe é proibido. Sendo assim, deve ser evitada tanto no discurso para crianças como para adultos.
A prevenção deve ser mais transparente, não revelando só as consequências nefastas do consumo, mas também os benefícios. Estranho? Penso que não! O que quero dizer com isto é que um amigo, “que confio” diz-me para experimentar cocaína, pegando no exemplo da frase. Eu aprendo na escola, nos média e em casa, que é mau, que não devo. O que me diz esse amigo é que é muito bom. Que estranho? Sempre me foi vendida a informação contrária. Que faço? Se for em frente, percebo que o meu amigo até tem razão. Então o que se passa? Andamos a dar meias informações?
Num método mais tradicionalista, pretendesse que os estudantes acreditem na informação que é dada. Por mais duro que pareça, acredito numa prevenção mais eficaz, quando se coloca todos os factos em cima da mesa. Sei que fumar faz mal. Mas talvez se me informassem sobre todas as emoções que provoca o seu consumo (principalmente as boas), provavelmente nunca iria experimentar por saber que se pode cair numa roda, em que a substancia ganha mais importância que a nossa própria liberdade. Nessa roda-viva de enganos e desenganos, mentimos a nós e por consequência aos outros. Vive-se assim numa profunda nuvem de fumo, em que tudo pode ser diferente do que se pinta, em que a realidade e a ilusão se misturam, um misto de busca de emoções e a fuga destas.
Mas na prevenção temos que arriscar e impedir que pais menos esclarecidos e até professores possam aniquilar este tipo de campanhas. Os jovens cada vez mais são mais exigentes. È necessário ensinar o que a substancia produz de positivo, porque numa campanha é mais fácil fazer compreender o que se pretende, ao tornar os educandos mais conscientes, tanto dos perigos como qual o tipo de sedução que tem para encantar quem experimenta. Assim fica claro que estas substancias levam a consequências negativas, fazendo os indivíduos serem alvos fáceis de actividades menos/ou nada legais e de renuncia da verdade interna, através de um jogo de prazer que inicialmente estas substancias provocam.
Num contexto de minimização/ou redução de danos, esta frase poderá ser aplicada facultando formas de o consumo ser menos prejudicial para a saúde do individuo. Neste âmbito, o trabalho de prevenção, não é só informar o que a substância provoca na saúde, mas informar, de que forma poderá ser menos prejudicial para ela. Como exemplo podemos exemplificar os problemas de saúde provocados por cocaína quando é aspirada. Noutro tipo de substâncias existe exemplos mais elucidativos. No caso da heroína quando esta é injectada, o uso da colher, da carica e da seringa deve ser cuidado e nunca ser partilhado. Desta forma evita doenças como o HIV, a Hepatite C e B, entre outras doenças. Centrando nesta ideia, a nossa frase pode representar uma maneira de tentar desviar a atenção dos seus leitores para comportamentos com menor dano na sua saúde, indo “…para outra marina.”, ou seja, cuidando-se melhor, já que não param seus consumos.
Como pensamento final, penso ser essencial a consciência da importância e da delicadeza do trabalho que se está a realizar. Paulo Freire (1987) revela a importância do trabalho do educador ser mais prático onde o seu foco seja aplicável na vida no dia-a-dia. Por isso julgo que campanhas com frases polémicas, como a comentada, oferecem a possibilidade de mais diálogo e conversas sobre o tema. Isto facilita o diálogo entre educadores, educandos, seus pais e cuidadores em geral também.

Helga Jesus
nº 26975
SE VAIS SNIFAR COCAÍNA, MUDA DE NARINA


Esta frase foi usada numa campanha de prevenção da toxicodependência e é uma frase bem forte. Parece-me numa primeira leitura uma frase que não apela à prevenção mas sim ao consumo, ou pelo menos apela a um consumo saudável (se é que isso existe): “drogue-se, mas proteja o seu corpo, não o estrague”.
Mas entendendo esta frase como uma frase de prevenção, percebo que o “muda de narina” é um “muda de opinião”. É um apelo a todas as pessoas que pensam experimentar cocaína para que não o façam, e por outro lado um apelo a quem o faz para deixar de o fazer.
No contexto da Educação de Adultos, campanhas como esta podem servir para suscitar nas pessoas uma opinião acerca do que pensam da problemática da toxicodependência, informá-las para melhor saberem agir também elas na prevenção, tornando-as também agentes interventores activos na sua comunidade.
Ao transmitir a consciência de co-responsabilidade de todos da problemática da toxicodependência existente na sociedade, transmite-se também a possibilidade e obrigatoriedade cívica de se ter uma palavra a dizer ou um gesto a fazer no sentido de mudar comportamentos e mentalidades para a construção por todos, de uma melhor sociedade para todos. Consciencializar as pessoas de que, ainda que eu não tenha problemas de toxicodependência, ou ninguém próximo que tenha, isso não é motivo para me demitir da missão de intervir. É preciso estar desperto e informado de que o esforço de todos é necessário para que se possa celebrar o sucesso de todos. Todos somos peças importantes neste puzzle que é a sociedade. E só com uma atitude activa/reactiva poderemos ver resultados.



14/12/09

Luís Manhita
Aluno 36763

2009-12-13

comentário...

Se vais snifar cocaína, muda de narina”

Frase chocante, precisa e concisa, que nos remete ao pensamento e à reflexão do que são as drogas e os seus efeitos.
Uma campanha de “prevenção choque” utilizada para chegar a todos sem excepção, com o objectivo[i] de:
• Evitar que as pessoas se iniciem no consumo de droga;
• Evitar que uma experiência de consumo se transforme num consumo regular;
• Intervir precocemente em padrões de consumo que apresentem riscos.
Quiçá um último apelo…o grito da sociedade numa atitude de prevenção e intervenção, um resgatar de consciência daqueles que sem pensar deixam a sua mente e o seu corpo, numa atitude demissionária dos seus problemas, das suas vidas, das suas famílias e da comunidade. Vida muitas vezes problemática, dura e cruel, mas saudável, livre da substância tóxica, matéria destruidora de sonhos e conquistas, da realidade consciente.
No contexto da Educação de Adultos, a perspectiva da prevenção surge como uma forma de orientação social, produção de conhecimento, uma acção que visa promover a consciência crítica, o despertar das mentalidades para a cidadania activa, a autonomia e a mudança de atitude, o estimular à participação e à intervenção das comunidades e dos seus elementos nas acções, melhorando a sua qualidade de vida.
“Não é no silêncio que os homens se fazem, mas na palavra, no trabalho, na acção - reflexão” Paulo Freire

Faro, 12-12-09
Margarida Correia
Discente Nº38005 Educação Social II ano (pós laboral)
[i] Objectivos apresentados pelo Instituto da Droga e da Toxicodependência, no PLANO OPERACIONAL DE RESPOSTAS INTEGRADA€€€€€€€S

Aula do dia 9/12

Exercício prático

Uma campanha do IDT, há algum tempo atrás, com o objectivo de prevenção dos riscos associados à droga, consistia na distribuição de folhetos com a seguinte frase “Se consumires cocaína, não uses sempre a mesma narina”.
Como futuro(a) educador(a) social, qual a tua opinião?

2009-12-12

Questão para responder ou questionar...

Caros alunos e alunas:
O que será mais importante para o educador social:
- saber responder ou saber perguntar?
-ser capaz de encontrar resposta para tudo ou ser capaz de questionar?

2009-12-08

Aconteceu Educação de Adultos...


Por iniciativa de um grupo de alunos do 2º ano de Educação Social (regime pós-laboral) ocorreu no dia 3/12, na ESEC, uma sessão de Formação/Informação sobre a ASMAL, uma das parceiras do Curso. O evento contou com uma exposição de trabalhos de utentes da ASMAL e com comunicações por parte de representantes da Instituição.

A acção denominada Mimar as Artes foi coordenada pela Margarida Correia.






2009-12-07

comentários

Caros alunos e alunas jáo podem fazer os comentários que entenderem. Agradeço.
Obrigado Catarina.
Joca

2009-12-04

Comentário... a propósito do provérbio chinês

Acho que não pode mesmo ficar sem comentário!
Em relação ao provérbio, confirma-se mais uma vez a enorme sabedoria do "povo chinês". Faz-me lembrar outro provérbio (este português), que era muito referido pelas gentes da serra algarvia: “de boas intenções está o inferno cheio”.
Outra situação que precisa mesmo de ser comentada, é… a falta de comentários! E não se pense que é por escassez de mão-de-obra, já este blog “dispõe”, mais coisa menos coisa, de cerca de cinquenta comentadores oficiais… onde ainda por cima eu me incluo! È verdade que não há trabalho suficiente para tanta gente, já que, se retirarmos as contribuições do professor, além da falta de comentários, há uma falta bem mais grave: a falta de “objectos de comentário”… na proporção devida!
É verdade que estou a escrever um pouco a medo, porque me lembrei de outro provérbio das gentes da serra; “diz o tacho p’rá panela, chega-te p’ra lá, não me tisnes”, mas ainda assim arrisco o apelo:
Vá lá pessoal! Vamos fazer um esforço para, em primeiro lugar, “dar trabalho a estes comentadores” e, se for possível, ajudá-los na nobre tarefa de comentar.
Ah, esqueceu-me a dizer que além dos cinquenta comentadores oficias, estão ainda contratados outros tantos fornecedores de “objectos de comentário”… ou serão os mesmos?
Zé Manel
(aluno do 2ºano-regime diurno)

2009-12-03

Aula de dia 2/12 de E.A.I (pós-laboral)



Depois de abordarmos a temática do atum e visionarmos o filme sobre a Armação do atum na Ilha da Abóbora em Tavira, “chegámos” à Ilha da Culatra, uma ilha situada na Ria Formosa, em frente a Olhão, mas que pertence administrativamente ao município de Faro.
Visionámos um filme (de 2005) que relata vários aspectos da vida das pessoas na Ilha da Culatra, uma comunidade piscatória com cerca de 300 anos, terá sido uma antiga aldeia de pescadores de atum.
Ao longo dos séculos, mercê do trabalho de famílias de pescadores, mariscadores e mariscadoras, homens e mulheres, cresceu, em volta de um núcleo histórico, uma comunidade que os culatrenses estão apostados em manter viva, continuando a preservar esta identidade e cultura que vai passando de avós, pais, netos, filhos.
Actualmente a Ilha da Culatra tem Pré-escolar, Ensino básico até ao 6º ano, Uma Associação de Moradores, uma Delegação do Centro de Saúde de Faro, nove cafés-restaurantes, 450 habitações, Correio, Equipa de futebol, polidesportivo... e memória colectiva de gente hospitaleira. Memória de gente que muito sabe da sua arte de viver e sobreviver
que devia ser registada, valorizada, ensinada nas carteiras das escolas do ensino básico, aqui da região. Memórias que deveriam ser resgatadas e exibidas em espaço adequado, para que o avanço do tempo não apague a história e as estórias de gente com muito saber e muita experiência de vida...

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2009-12-02

A propósito do tema do filme visionado na última aula…um breve nota sobre a história do atum no Algarve

Terá sido por volta de 1433 que o Infante D. Henrique terá recebido, do rei D. Duarte o exclusivo da pesca do atum no Algarve. Em 1440, D. Duarte concedeu o arrendamento das almadravas a negociantes estrangeiros. Em 1502 o rei D. Manuel I terá criado, em Lagos, a Feitoria das Almadravas. Em 1550, terá surgido em Faro uma feitoria autónoma da de Lagos, por iniciativa da rainha D. Leonor, proprietária das armações existentes na costa próxima de Faro. Nos finais do século XVI, Lagos seria o mais importante centro de exportação de atum, desenvolvendo importantes relações com os países mediterrâneos.
Este comércio manter-se-ia próspero por mais meio século. Na primeira metade do século XVIII, ter-se-á observado um período de crise do atum, para em 1773, o Marquês do Pombal dar novo alento a esta indústria através da criação da Companhia Geral das Reais Pescarias do Reino do Algarve e da adopção de um conjunto de medidas de apoio a esta indústria. Será por volta de 1800 que se assiste ao aparecimento de quinze armações de atum, localizadas entre Lagos e Tavira. Depois de uma fase de algum declínio desta indústria nas primeiras décadas do século XIX, a partir de 1830, é extinta a Companhia Geral das Reais Pescarias e assiste-se à criação de várias sociedades de pesca por acções e à introdução de novas tecnologias. Consta que no final do século dezanove, uma armação algarvia pescou cerca de quarenta e um mil atuns e que, por vezes, chegavam a apanhar exemplares com mais de dois metros e trezentos quilos de peso.
Iniciou-se, então, um dos períodos mais ricos, que se prolongaria até à primeira década do século XX. Em 1898 existiam na costa algarvia dezoito armações de atum. Observa-se, então um novo e definitivo período de declínio da pesca do atum devido aos custos de produção, a redução das capturas e a inundação do mercado externo de conservas de atum com origem noutros países que realizavam as suas capturas no Atlântico Norte e na costa de Angola.
Em 1929, assistiu-se ao fim das armações no Barlavento algarvio. Das 17 armações que eram lançadas ao longo de todo o litoral, no começo do século XX, a pesca estava reduzida a 5 artes fixas: "Abóbora" e "Senhora do Livramento", da Companhia Balsense no Algarve; "Medo das Cascas", da Companhia de Pescarias do Algarve; "Barril ou três Irmãos", da Companhia de Pescarias Barril ou Três Irmãos; e "Cabo de Santa Maria", da Companhia de Pescarias do Cabo de Santa Maria, Ramalhete e Forte.
Em 1967, lançou-se, pela última vez, a única armação existente em Faro. A partir de então, só Tavira detinha armações. Em 1961 António Campos filmou a última campanha do arraial que se instalava na ilha da Abóbora, diante da localidade de Cabanas de Tavira. Foi a última campanha daquele arraial, que o mar engoliria no Inverno seguinte. Em 1968 o realizador Hélder Mendes terá testemunhado a última grande campanha do Arraial Ferreira Neto, em Tavira
Em 1971, a Armação da "Abóbora" em parceria com o Barril lançou a armação, aproveitando o material ainda existente nas duas companhias: "Balsense no Algarve" e "Pescarias Barril ou Três Irmãos". A extinção da pesca do atum na costa algarvia veio a verificar-se no ano imediato, numa parceria das armações "Medo das Cascas" e "Abóbora", cujo resultado foi a captura de um único tunídeo.
Actualmente, há apenas uma armação do atum, em Olhão/Tavira, cuja produção de tunídeos segue para o mercado português, mas também inglês e holandês. O aumento do número de restaurantes de sushi, e o aumento dos combustíveis obrigou a Empresa de Pesca e Tunídeos, com capitais portugueses, mas que funciona com técnicos e tecnologias japonesas, a mudar o perfil da exportação do pescado. Até há pouco tempo, a empresa capturava o atum, através da armação, e enviava o peixe fresco directamente de avião para o Japão, onde era vendido a preços astronómicos pela grande qualidade que lhe era conferido por especialistas japoneses. Hoje em dia, 95% dos atuns é destinado ao mercado europeu.
Fausto Costa escreveu num total de 191 páginas um livro intitulado «A Pesca do Atum nas Armações da Costa Algarvia», editado pela Editorial Bizâncio, que aborda a vida e costumes dos pescadores da pesca do atum, nomeadamente nas armações de Tavira (Abóbora, Barril, Livramento e Medo das Cascas), assim como de um enquadramento histórico desde a antiguidade até ao fim das armações, nos anos sessenta do século XX.

provérbio chinês...

Não basta dirigir-se ao rio com a intenção de pescar peixes; é preciso levar também a rede.

caros alunos e alunas, alguém quer comentar?

2009-11-30

A aula de E.A.I do pós-laboral hoje foi...

Visionamento do filme A Almadraba Atuneira
Ano: 1961
Duração:27´
16mm – preto e branco
Realização, Montagem, Fotografia e Produção – António Campos
Som – Alexandre Gonçalves
Rodagem – 1961/Ilha da Abóbora (Tavira – Algarve)
Estreia – 5 de Maio de 1979, RTP2
Obs. – Apoio financeiro da Fundação Calouste Gulbenkian e Grupo de Teatro Miguel Leitão.
Colaboração – Pescadores Octávia, Maria Manuela, Escalço Valadas e Malheiro do Vale.

sinopse:
Por altura da passagem dos cardumes de atum pela costa algarvia em direcção ao Mediterrâneo onde vão procriar, na costa sul da Península Ibérica mobilizam-se comunidades piscatórias muito peculiares. Os participantes das campanhas do atum vão preparar e lidar com as almadrabas, as hoje extintas armadilhas especiais para a captura do atum, desaparecidas devido à diminuição brutal dos cardumes e desvio de rotas. António Campos capta todo o processo de preparação dessa pesca artesanal até à «matança», acompanhando por uma temporada as actividades no arraial que se instalava na ilha da Abóbora, diante da localidade de Cabanas de Tavira. Foi a última campanha daquele arraial, que o mar engoliria no Inverno seguinte – desapareceram as casas e a própria ilha –, e é um dos documentários maiores do cinema português.

2009-11-28

O meu contributo

Recordar é (re)viver...

O Algarve sempre foi uma região rica ao nível do seu património cultural que inclui tradições, mezinhas, poesia popular, provérbios, artesanato, acontecimentos festivos, festas populares. Infelizmente este património cultural não tem sido devidamente explorado. Veja-se a título de exemplo o “nosso” poeta mais carismático, o António Aleixo que, apesar de conhecidas algumas das suas quadras a nível nacional, aqui no Algarve a sua vida e obra não tem o reconhecimento que deveria ter. Veja-se a ausência da sua vida e obra nos currículos do ensino básico o que reflecte a ignorância manifestada por alunos do ensino superior sobre a sua obra. Em duas turmas do Curso de Educação Social, uma de regime diurno e uma de regime pós-laboral, a maioria dos alunos e alunas não conhecia quase nada da vida de António Aleixo e não eram capazes de dizer uma única quadra sua. Estranho! Este é um exemplo, mas poder-se-iam apontar muitos outros relativamente ao conhecimento da nossa tradição oral.
É urgente levantar esta cortina do esquecimento e dar visibilidade ao nosso património cultural, valorizá-lo e preservá-lo. Preservar a nossa cultura é preservar a nossa memória, é consolidar o nosso sentido de identidade, de pertença a uma comunidade, a uma região com a qual nos identificamos. Uma comunidade, uma região, sem património cultural, é um espaço territorial com gente sem referências. Gente sem referências, é gente sem memória, gente sem futuro.
Com o objectivo de viabilizar a salvaguarda desse património há que pesquisar, identificar, registar, divulgar, valorizar, porque se não o fizermos, poderemos não deixar uma memória escrita onde as futuras gerações se possam rever e orgulhar da “sua” identidade. A identidade de uma comunidade, de uma região será importante para a afirmação de valores morais, éticos e culturais. A nossa História deverá ser mantida na lembrança, passando de geração para geração, por forma, a ser respeitada, valorizada e mantida.


[Uma história da Tia Rita Engrácia (Furnazinhas, Castro Marim)]:

Havia dois rapazes que já há muito tempo que não se encontravam. Um dia encontraram-se e estiveram a falar um com o outro. A certa altura um deles disse para o outro:
- Onde tens andado que já há tanto tempo que não te vejo?
- Ora essa, tenho andado a passear. Ainda sou muito novo, tenho tempo de trabalhar. Olha, há dias fui dar um passeio, vi muitas coisas importantes, mas o que gostei mais foi de ter visto uma couve, muito grande, muito grande.
- Olha, eu também há dias fui dar um passeio e estava lá uma feira com muitas coisas a vender, mas o que mais me agradou foi de ter visto uma panela muito grande, muito alta.
Diz o outro assim:
- E para que era essa panela tão grande?
- Pois era para cozer a couve tão grande que tu viste.

Um poema:

Encontro-me alegre e contente
Que ninguém queira saber
Com 68 anos de idade
Eu fui aprender a ler.

Mas quando eu ia para a escola
Muita gente pagodava
Mas eu fiz a minha vida
E a essa gente não ligava.

E porque tinha muita idade
E isso o que tem a ver
Quem tiver fé e vontade
Nunca é tarde para aprender.

[Rita Engrácia (Furnazinhas)]

"A Tia Rita nasceu em 1917. Em criança não pôde frequentar o ensino primário e viu na Educação de Adultos, uma forma de aprender aquilo que ficou para trás e que sempre desejou. Aos 67 anos vai frequentar o curso de Alfabetização da rede pública de Educação de Adultos. Dois anos mais tarde faz a 4ª classe e então pode começar a registar por escrito e a ler as suas poesias, histórias e quadras populares. Há três anos atrás com 89 anos a Tia Rita, passava parte do seu dia num lar, fazia empreita e dizia versos, mantendo-se uma pessoa bastante activa, comunicativa, alegre e sempre disposta a aprender. Espero que continue assim…por muitos anos."

A Catarina fez o seguinte comentário...

Sabe prof. Joca, sempre pedi ao meu pai para escrever os seus versos em papel, mas a resposta foi sempre a mesma: "não tenho cabeça para isso". Com esta recolha, ele ficou tão entusiasmado que parecia uma criança. Relembrou-se de alguns versos que já se tinha esquecido, dedicou-se com alma e coração e adorou a ideia. No fim ainda disse: "se não fosse eu, vocês não tinham conseguido". :-)
E agora até já diz que vai passar todos os seus versos para o papel. Escusado será dizer o quanto feliz estou. Esta recolha já deu frutos :-)
Ah...e até já marcou presença no encontro de poetas. Quem diria? E esta hein?

2009-11-24

Os "nossos" poetas

Versos soltos (Tia Conceição)

Bate leve, levemente
Como quem chama por mim,
Será chuva? Será vento?
Vento não será certamente,
E a chuva não bate assim!
Fui ver... É neve!
Neve que cai branca e fria,
Há quanto tempo eu não via!
Que saudades meu Deus...

Versos soltos (Tia Cristina)

A velhinha vai fiando,
A velhinha vai pensando,
Também foi nova e bonita,
Também teve o seu amor.
Foi casada e teve filhos,
Que lhe levou o Senhor.

Como a neta vai casar,
Pode bem acontecer,
Ter ainda que bordar,
Enxoval para o que vier...
A velhinha vai fiando,
A velhinha vai pensando!

Maria Laura Rodrigues António Revez
69 Anos, Professora do ensino básico na situação de reformada
Olhão


Poema dedicada à Sra. Alice

Alice uma grande senhora
Ela tem bom coração
É a nossa animadora
Ela dança como um pião.

Ela gosta de dançar a valsa
Ela dança muito bem
Ela dança com muita graça
Melhor que ninguém.

Ela é alegre e divertida
Esta nossa menina
Tudo faz parte da vida
Desta grande bailarina.

Ela conta histórias picantes
Que nos faz rir de gargalhada
Nestes momentos constantes
É mesmo uma senhora engraçada.

É assim que gosto de a ver
Sorridente com alegria
Eu também lhe queria dizer
Tenho por ela muita simpatia.

Ela é linda como o seu jeito
Esta senhora com alguns bens
Tenho por ela muito respeito
Quero lhe dar os parabéns.

Queria dizer a essa senhora divertida
A minha opinião
Deus lhe dê muitos anos de vida
E que ela viva com muita paixão.



Há meio século que casámos

Há meio século que casámos
Era-mos ainda crianças
Mas sempre nos amámos
Desde a nossa infância

Ela era linda como uma flor
Alegre e namoradeira
Dei-lhe sempre o meu amor
Ainda mesmo em solteira

Ela gostava eu também
Éramos os dois a gostar
Nunca digo a ninguém
O que fizemos antes de casar
Mas penso que fizemos bem
Como devem calcular.

O casamento é uma lotaria
Pode correr bem ou mal
Hoje já ninguém admira
Do divórcio dum casal.

A vida mudou, nem sempre no bom sentido
Hoje somos idosos e o melhor ficou para trás
Não tenha vergonha amigo
Vá sempre dando alguma enquanto fores capaz

Uma vida sem amor
É como uma flor sem água
Temos que dar e receber calor
Para que a vida não se torne em mágoa.

A vida não é nada
A vida não passa de uma ilusão
Se a vida não for amada
A vida será sempre desilusão.

Hoje estamos aqui como uma grande família
Á coisas que não posso ficar calado
Penso naqueles que sofrem com alegria
Porque só oiço falar do crédito mal parado.

Se a vida fosse vivida com mais harmonia
Com mais dignidade e compreensão
Haveria mais amor e alegria
Menos traidores e corrupção.

O verão já passou
O Outono está a chegar
Até o tempo já mudou
Posso dizer que está tudo a falhar.

Vivemos numa época que não dá para rir
Somos tratados como bonecos
Toda a gente sabe que não estou a mentir
O que será dos nossos netos.

Queria acreditar na fraqueza
Tenho receio de o fazer
Vivo fechado na incerteza
Enquanto eu viver

Vou dar isto por terminado
Não tenho mais para contar
Estou a ficar velho e cansado
Como devem imaginar

Se soubesse cantar, cantava
Acompanhado de um violino
Mas é melhor ficar calado
Para não dizerem: “Cala a boca Virgolino!”

Virgolino Louça
72 Anos
Almancil



Levantamento de literatura oral efectuado em 18.11.2009, pelas discentes:
Isabel Saúde (nº36762)
Margarida Correia (nº38005)
Patrícia Moreno (nº37546)

Os "nossos" poetas

NO âmbito do programa da u.c. de educação de adultos I foi proposto à turma do 2º ano, regime pós-laboral, um pequeno exercício de levantamento de literatura oral, para concretizar o estudo sobre património cultural.
Alguns grupos, na recolha de tradições, mezinhas, poesia popular, provérbios,rezas, recorreram a familiares e amigos. Muito bem!
Vou divulgar alguns desses poemas dos "nossos" poetas porque a maioria são familiares muito próximos dos alunos e alunas:


Luciano Viegas Trouchinho nasceu em 29 de Janeiro de 1936 em Marrocos. Muito pobre e quaisquer recursos económicos para tratar a sua doença aos seus 17 anos de idade, consegue um atestado de pobreza e 100$00 oferecidos pelos seus vizinhos, que o ajudam a migrar para Lisboa à procura de salvação. Sozinho e enquanto o corpo adoecia cada vez mais, tentava afastar o seu pensamento a escrever versos, conseguindo ainda angariar algum dinheiro para o seu tratamento.

Por causa de uma doença
Padecer na pobreza
É melhor por vezes morrer
Que assim viver na tristeza

Na flor da nossa idade
Ninguém devia adoecer
É melhor às vezes morrer
Que assim viver na Humanidade
Dizem ser uma realidade
Não possuir doença
É melhor morrer à nascença
Que assim tanto sofrer
Andar sempre a padecer
Por causa de uma doença

Um doente só com pensar
Na sua arruinosa situação
Arruína o coração
Por que o faz bem magoar
Não se pode melhorar
Porque vive na pobreza
Que no seu corpo existe
É uma coisa muito triste
Padecer na pobreza

Quando entrar uma doença
Muito tarda a sair
Para a gente possuir
É melhor morrer à nascença
Só o que um doente pensa
No seu triste padecer
Andar sempre a querer
Dessa maldita se salvar
Para uma delas nos atacar
É melhor às vezes morrer

Certas pessoas mimosas
Que no seu caminho vão seguindo
Saltando, gozando e rindo
Julgando ser orgulhosas
Dizem ser vaidosas
Por possuir certas riquezas
Mas surgem as tristezas
Que as fazem padecer
É melhor às vezes morrer
Que assim viver na tristeza.

*********************

Não quero quando morrer
Ir num caixão deitado
Para ninguém ficar a saber
Onde fui enterrado

Quero ir à electricidade
Para uma cova na serra
Para que em toda a terra
Que eu fui sepultado
Plantarem uma roseira
Que cresça ali a meu lado

Plantem também um lírio
Que significa martírio
Porque bastante passei
Pois isso que lhe ditei
É a pura da verdade
Para viver com lealdade
Temos de passar por santos
E por isso os encantos
Aparecem na serra
Outros aparecem na guerra
Pela sua valentia
Mas eu quando morrer um dia
Quero ir para baixo da terra

Mas não quero ir para o cemitério
Porque qualquer mistério
Que lá possa haver
Quero morrer num jardim
Pois eu quero enriquecer

Pelas suas lindas flores
Cada quais com suas cores
Faço venda a toda a gente
Cada molho 15 tostões
Vendendo flores e botões
Da campa de um inocente

Depois de estar completamente curado e sentindo-se mais forte, escreveu estes versos:

Numa noite de verão
Num campo desconhecido
Encontrei certo sujeito
Dentro de um saco metido

Era no mês de Agosto
No rigor do calor
Para procurar um amor
Pus-me a correr de gosto
Tinha já o meu rosto
Encarnado como pimentão
Pus-me a correr então
Nas terras mais modestas
Encontrei várias florestas
Numa noite de verão

Ao atravessar mata cerrada
Que era perfeita planície
Encontrei à superfície
A terra escavacada
E a olhar e sem ver nada
Procuro-me onde estou metido
Mas ainda como atrevido
Pus-me pela gruta a andar
O diabo fui encontrar
Num campo desconhecido

Era negro como o carvão
Com unhas grandes e rabo
Disse para comigo é o diabo
E pus-me em observação
Trazia cartas na mão
Um grande medalhão ao peito
E disse-me com brusco jeito
Vamos jogar uma cartada
E nessa terra malvada
Encontrei certo sujeito

A um joguinho que eu sei
Fomos jogar uma cartada
Dei a primeira trucada
E todas as vezes ganhei
Foi depois quando o fintei
Ao dizer-me seu atrevido
Você vai ser cozido
No inferno o vou devorar
Mas eu deitei-o a afogar
Dentro de um saco metido

Trabalho elaborado por:

Discentes:
Catarina Viegas, nº. 38000
Sara Guerreiro, nº. 33922

2009-11-23

Texto do aluno Zé Manuel

SERRA... S.O.S CULTURA
(Publicado no Jornal da Serra em 1994)
Cultura! Palavra abstracta... que significas? Para alguns menos informados (a par com os mais pretensiosos), talvez pouco mais sejas do que o retrato (por vezes auto) do Sr. doutor ou do Sr. engenheiro; do sábio e letrado que tão bem fala e tudo aparenta saber. Será isto verdade? Será que não há homens extremamente cultos, que não são sábios e sábios que não são cultos? E mesmo para uma grande parte daqueles que reconhecidamente têm um alto nível de cultura geral... será que o termo “geral” é tão abrangente quanto à primeira vista possa parecer? Vamos falar um pouco da cultura local das gentes da Serra!
Alguém em tempos definiu a cultura, como sendo tudo o que resta depois de termos esquecido a maior parte daquilo que aprendemos. Nesta perspectiva, não hesitamos em afirmar que as gentes da Serra são extremamente cultas. São detentoras de uma cultura própria, transmitida ao longo de gerações e fortemente reforçada por longas décadas de experiência, sacrifício e quantas vezes de sofrimento. Todos os seus saberes estão nitidamente gravados no único livro onde aprendeu a escrever: o livro da memória! Quando transmitem os seus conhecimentos, fazem-no com segurança, “sem necessidade de preparar a aula ou de consultar manuais”. Infelizmente os “alunos” são cada vez menos e o seu aproveitamento deixa cada vez mais a desejar. Não porque sejam maus alunos; mostram apenas desinteresse em aprender a matéria que estes professores leccionavam e que, devido à reforma do ensino, há muito que foi retirada do programa. Se por um lado isso se compreende e justifica, como sedo o ritmo normal da vida, não deixa no entanto de ser um pouco frustrante (sem querer ser excessivamente saudosista) ver desmoronar-se a ritmo assustador, um tão sólido castelo de saberes, sem que ao menos legue em testamento os últimos bens que possui: a sua história!
È verdade que hoje (felizmente) há bastante gente que conhece “e sente” os problemas da Serra; gente que tantas vezes luta contra a corrente, tentando resgatar das águas turbulentas quem (por descuido ou empurrado) perdeu o pé e não consegue sair sozinho. Também não é menos verdade que outros (os tais auto-retratos de pessoas cultas) vêm apenas refrescar-se nas águas frescas e despoluídas. Muita tinta corre hoje sobre os problemas da Serra. É simples: fazem-se duas ou três entrevistas, recolhe-se algum material, forma-se a nossa própria opinião sobre os usos e costumes da cultura local, joga-se hábilmente com palavras ou termos que causam impacto e estão tanto em moda (termos cujo significado assenta como uma luva à bela Serrania: desertificação, desumanização da paisagem, agricultura de subsistência, desertificação humana, crise cultural, etc., etc.) e aí está! Temos um belo texto sobre um tema apaixonante (a chamada civilização de modos de vida simples) que irá certamente, durante quatro ou cinco minutos, prender a atenção de centenas de leitores que pasmarão incrédulos, com a pintura de tão negro quadro.
Infelizmente quase sempre é esquecido um pequeno pormenor: as gentes que habitam a Serra! Quase sempre se esquece que esses focos de resistência humana, são a única razão porque hoje se continua a trabalhar na Serra. São constantemente remetidos para segundo plano; raramente são consultadas quando se decidem formas de resolver os seus problemas, sendo-lhes bastantes vezes impostas normas que não compreendem, para atingir fins que raras vezes acabam por lhes interessar. São deficientemente consultados quando se tecem considerações sobre a sua história, as suas tradições, a sua cultura. Este trabalho, ainda que feito por “técnicos de reconhecido valor”, raramente atinge a perfeição que seria de esperar. A razão é simples: normalmente acreditam demais nas suas faculdades; acham que lhes ensinaram tudo na universidade e esquecem-se de que as pessoas (mesmo os analfabetos), são a fonte mais rica de informações e sabedoria. Esquecem-se de que ouvindo as suas histórias e registando os seus saberes, se podem aprender coisas que nenhuma universidade ensina.
Há quem diga que só compreendemos aquilo de que fazemos parte; será provavelmente esta a diferença entre “o homem instruído que tudo sabe e o pobre homem da Serra, velho e analfabeto”. No entanto, enquanto o primeiro estudava Sócrates, aprendia a aplicar o Teorema de Pitágoras, ou analisava as consequências da Revolução Francesa, o segundo não parou no tempo e aprendia coisas bem diferentes e não menos complicadas. Enquanto aprendia a fazer todos os trabalhos do campo, ia aprendendo outras coisas como: identificar centenas de espécies de plantas; arbustos e árvores (largas dezenas destas plantas, poderia identificá-las de olhos vendados, utilizando o olfacto ou o tacto); quais as plantas que poderiam ser usadas para chás e “mesinhas”; quais as que poderiam matar um animal quando consumidas em excesso (através dos sintomas que o animal apresentava, podia por vezes identificar a planta que tinha provocado o seu envenenamento); tudo sobre os pássaros: o seu nome; identificá-los pelo “canto”; saber exactamente do que se alimentava cada espécie; identificá-los pelos ovos ou pelo ninho; saber os materiais que cada espécie utilizava para construir o ninho e os locais, árvores ou arbustos em que o construía, etc. Aprendia quando uma abelha é inofensiva e a identificar pelo zumbido, quando esta quer atacar; a saber como, quando e onde plantar ou enxertar cada espécie de arvore (uma árvore que plantada num determinado local se desenvolve normalmente, poderá ser eternamente raquítica se plantada a escassas dezenas de metros. Através da presença de determinados pássaros, aprendia a identificar a aproximação ou mudança de vento (em dias quentes e abafados de Verão, o “pedreiro” voa silencioso na frente do vento norte; o aparecimento e algazarra das “abelharucas”, assinala infalivelmente a aproximação de vento levante); etc, etc. A lista de saberes (a que se poderiam juntar crenças e superstições) seria enorme e para descrevê-la com rigor, era necessário mais do que um simples texto.
Quando descreve uma aldeia ou monte da Serra, invariavelmente o autor dá asas à veia poética do imaginário; “transporta-se para um passado longínquo”, apregoando a sentida sensação de que o tempo ali parou. Sou obrigado a discordar de quem assim pensa! Pelo contrário, acho que o tempo foi a única coisa que aqui se manteve em movimento constante; tudo o resto parou completamente, ou corre sério risco de o fazer. Há também quem descreva a paz e a calma que nos invade, quando nos aventuramos pela Serra, ou o silêncio terapêutico que nos rodeia, quando subimos um cerro e observamos a paisagem em redor. Alguém num desses momentos terá sequer imaginado como se apresentaria esse mesmo local, se tivesse sido observado três ou quatro décadas antes? Acreditem que o quadro seria bem diferente! O quadro seria bastante mais belo e o autor teria recolhido matéria para um texto incomparavelmente mais rico, sem necessidade de exibir a veia filosófica. Teria podido observar em redor largas dezenas de pessoas; várias centenas de animais sobressaíam na verdura de Março, ou confundiam-se com o amarelo torrado de Junho! O silêncio actual daria então lugar a uma enorme e saudável algazarra... o berrar contínuo das ovelhas e borregos; o som de centenas de chocalhos, que libertavam dezenas de notas diferentes; o som agudo e inconfundível das esquilas e guizos, que machos e mulas traziam dependurados nos cabrestos de “antrolhos” enfeitados; o “dlom dlom dos “raboleiros” das vacas que se ouviam a quilómetros de distância; o “azurnar” lento e preguiçoso dos burros; o “gornido” agudo e aflitivo do pequeno porco que levara uma “trombada” doutro mais forte, ao tentar disputar uma lesma ou uma cabeça de jarro; o ladrar incansável e repetitivo dos cães; a algazarra de milhares de pássaros; o grito que a águia soltava lá do alto, enquanto voava em círculos apertados e subia cada vez mais; o grasnar rouco e agoirento de bandos de corvos; o movimento rápido e silencioso duma cabrada, da qual só nos apercebíamos quando uma cabra espirrava a escassas dezenas de metros, ou quando ouvíamos o pssst... pssst do cabreiro, a advertir o deslize de um ou outro animal. Se prestássemos atenção, registaríamos ainda em pouco tempo, um repertório considerável de quadras e cantigas ao desafio que entoavam um pouco por todo o lado. Os seus ecos, confundiam-se com o praguejar do homem que se tinha desentendido com os animais que utilizava nas lides do campo, ou com os berros da mãe que “bradava” aos filhos que tinham ido “ó nino”, ou andavam chafurdando atrás dos peixes-sapos num pego do barranco próximo.
A cor amarela barrenta localizava inconfundivelmente, a uma distância de largas centenas de metros, os caminhos trilhados diariamente por grande número de homens e animais. Burros e muares iam apetrechados de maneira diferente, consoante a época do ano e os produtos que carregavam. Sobre a albarda levavam cangalhas, se transportassem lenha ou seara; zangarilhas com canastras, ou alforges com cestos se transportassem figos ou uvas; sacas “em carga” (presas com cordas e sabucarga) se transportassem amêndoas, bolotas, alfarrobas ou cereal em grão; gorpelha se transportassem “esterco”. Se fossem para a lavoura, transportavam charrua, monilha, canga e puxo (ou cangalho e boleia, se a parelha fosse substituída pelo “carramato”).
Quando se ia a uma feira ou mercado, a “albardadura” era diferente; a “xerga” era “composta” e o “bancal” era substituído pela manta montanheca. Quando o animal não tinha albarda... dizia-se que estava em osso!
São tradições e saberes como estes, que hoje estão em risco de desaparecer por completo. Quebrou-se o feed-back entre quem ainda possuí estes saberes (os idosos) e quem poderia minimizar a sua perda (os jovens). Penso que a escola poderia ter aqui um papel importantíssimo, e funcionar como tábua de salvação na defesa destes valores.
Zé Manel (aluno do 2º ano do Curso de Educação Social)

2009-11-20

Ainda a propósito da aula de dia 16

A propósito de Aleixo VS Educação de Adultos


Alguma coisa já vivi
Mas muito tenho p`ra aprender
Vou contar o que entendi
Do que me deram a conhecer

Educar não é só ensinar
É também perceber
Que nem todos somos iguais
E que iguais não queremos ser

P`ra educar o coitadinho
Tem que o doutor se educar
Não vá o pobrezinho
Ter algo p`ra lhe ensinar

Se dá trabalho nisto pensar
Então deixa-te adormecer
Não queiras ter tarefas
Nem queiras perceber


Que essa coisa é só p`ra quem
Procura algo na vida
Um caminho p`ra diferença
Tem que ser coisa sentida

Aqui deixo estas quadras
Espero que não sejam em vão
Se alguma coisa aprenderem
passem de mão em mão

Dulce Martins, nº36719
2º ano - Educação Social(regime diurno)

2009-11-19

A propósito da apresentação do Projecto da Cáritas Diocesana do Algarve

Aula de dia 19 Novembro de 2009- 3 Reflexões


Reflexão 1
Neste mundo globalizado, fruto da expansão e intensificação de interdependências e múltiplas influências nas mais variadas facetas que envolvem o ser humano, assistimos nas nossas sociedades actuais, cada vez mais multiculturais mas todavia significativamente assimétricas, ao agravar das desigualdades que se expressam a vários níveis, nomeadamente no campo económico-profissional, nas diferenças de “tratamento” entre géneros, estratos sociais, classes etárias e etnias, no acesso à educação e à cultura, na participação consciente e crítica da construção de sociedades mais justas e equitativas.
Assistimos à mundialização das finanças e economias e, com ela, o agravar do fosso entre “ricos e pobres”. A crise económico-financeira instalou-se e alastra mundo fora, agudizando as situações já se si precárias de inúmeros cidadão “marginalizados”, arrastando para um “nova pobreza camuflada” camadas da população até agora razoavelmente “bem instaladas” e poupadas a situações de privação várias, originando situações de desemprego que afectam cada vez mais famílias, imigrantes, mulheres sobretudo, profissionais liberais, transportando-os para momentos vivenciais de “sufoco” e até de desespero por vezes dramático, de conflitos e rupturas afectivas e económicas.
As sociedades da informação fomentam sociedades de consumo massivo de bens e serviços; instituições e empresas promovem e facilitam o acesso ao crédito “fácil” e rápido; famílias endividam-se na ânsia do “ter”, esquecendo ou relegando para segundo ou terceiros planos valores e princípios ético-morais inerentes ao “ser”, tais como a caridade, entendida como “amor ao próximo” e olhar para ele como ser semelhante a nós, com as suas necessidades, fraquezas e potencialidades, a humanização e a defesa da dignidade humana, o compromisso de todos na “luta” pelo desenvolvimento individual e colectivo de comunidades, rejeitando qualquer tipo de segregação, associado ao universalismo e à defesa dos direitos humanos, independentemente de divergências ideológicas, políticas, religiosas, de nacionalismos, entre tantos outros “ideais” que se desejam concretizáveis nestas nossas realidades cada vez mais individualistas, competitivas, cuja “máxima” se reduz à procura de eficácia e eficiência.
Neste âmbito, parece-me de todo valioso o trabalho desenvolvido pela Cáritas que, embora de cariz religioso, desenvolve trabalhos no sentido de promover estes e outros princípios e valores necessários ao desenvolvimento integrado da pessoa em interacção com toda a envolvente que a “atinge”, influencia e por ela é “condicionada” no seu crescimento como ser humano responsável e participativo.
De salientar o profissionalismo e a transparência em que assentam as actividades pela Cáritas empreendidas, em parceria com várias outras instituições e organismos, no intuito de desenvolver projectos direccionados para a integração de pessoas em situação de exclusão social, fruto de condicionantes vários (nacionalidade, género, idade, etc.), através não só de ajudas assistenciais, mas sobretudo a partir de incentivos à capacitação/formação profissional, no sentido de valorizar as competências e a auto-estima dos indivíduos, visando o seu empowerment, a sua emancipação e liberdade de expressão e participação activa e consciente na construção/reconstrução das suas vidas em sociedade.

Rosinda Santinha nº 3121

Reflexão 2
No dia 17 de Novembro de 2009 à hora marcada da aula da Unidade Curricular de Educação de Adultos fomos contemplados com a presença de quatro convidados responsáveis pela Cáritas Diocesana do distrito de Faro.
Apenas três dos quatro convidados participaram na palestra com uma exposição oral, e o que pretendiam era angariar voluntários para se unirem a esta instituição, contudo na minha opinião foram muito além disso, trouxeram-nos a explicação de valores imprescindíveis para nós enquanto futuros educadores sociais e acima de tudo partilharam os seu saber e as suas experiências do dia-a-dia de como lidar com os problemas da sociedade.
Além disso vieram descodificar a ideia, de que a Cáritas é de Igreja Católica, na verdade existe uma ligação entre ambas, mas todas Cáritas Diocesanas são entidades independentes. Que ajudam todos os que lhe batem à porta sem olhar à religião, a cor, às crenças, à cultura, à etnia, ou a situação em que se encontram. Pois a Cáritas Diocesana de Faro tenta sempre resolver as mais diversas situações de todos os que diariamente lhe chegam às mãos, presta serviços à comunidade efectivos não apenas em acções pontuais como a Casa da Mãe, ao seu infantário e à distribuição de alimentos e roupa que fazem com alguma regularidade; e os projectos que estão no papel mas que se prevê a sua criação num curto espaço de tempo, entre eles a mercearia social, o balneário social e o refeitório social.
Tendo em conta a nossa posição de estudantes foi também estimulante observar ex alunas do nosso curso integradas em projectos deste cariz e ouvir boas críticas ao nosso curso e aos nossos profissionais que já estão no terreno a trabalhar por parte do responsável da instituição.
Em conclusão, acho que este projecto veio mais uma vez puxar-nos para o voluntariado e a resposta foi claramente positiva pois os projectos desenvolvidos por esta instituição são sem dúvida aliciantes, quer para desenvolvermos o nosso espírito de solidariedade e entre ajuda ao darmos um pouco de nós sem receber nada em troca, quer para o nosso futuro próximo.
Alexandra Luz


Reflexão 3
No dia 17 de Novembro de 2009 por essas 14h00, realizou-se na Escola Superior de Educação, na Sala 95 uma apresentação sobre o Voluntariado – Cáritas Algarve.
Esta apresentação estava constituída por um homem e três mulheres. Duas delas foram alunas da nossa escola e frequentaram o nosso curso (Educação Social), a outra era a Irmã Beatriz Santos que é responsável pelo Sector voluntário. O homem era o presidente desta instituição.
Nesta apresentação aprendi que a Cáritas é uma instituição da Igreja Católica, que visa a servir não só o homem como a mulher a lutar pela defesa dos seus direitos e contribuir para a sua promoção e desenvolvimento integral na perspectiva da caridade. E caridade neste sentido não significa dar roupas ou comida para as pessoas, significa dar o amor que temos ao outro.
Esta instituição destina-se às mais diversas necessidades da comunidade, procura concretizar a opção preferencial da Igreja pelos mais pobres, tendo em conta que existe vários tipos de pobreza e que esta pode não significar apenas a falta de bens materiais, como também o isolamento, a falta de carinho/afecto/amor, discriminação por parte da comunidade e outras formas de exclusão.
Aprendi também que esta instituição tem sete valores, a humanização; o profissionalismo; transparência; compromisso; caridade; universalidade e por fim criatividade.
Durante o decorrer da apresentação o que destacou-se mais e o que me cativou mais foi o voluntariado, pois é algo bastante benéfico para o nosso futuro. O voluntariado tem por missão promover a procura de pessoas ou entidades que expressem a sua disponibilidade e vontade de prestar trabalho voluntario, contribuindo para a melhoria do bem comum das pessoas e das populações que necessitam.
Interessei-me bastante por este tipo de voluntariado e até inscrevi-me, pois esta instituição promove o voluntariado ao apoio a pessoas carenciadas, ao banco de alimentos, banco da roupa e campanhas de solidariedade, entre muitas outras. Estes voluntariados foi algo que sempre quis fazer, pois sinto que estou a ajudar as pessoas que precisam, pois hoje em dia existem muitas pessoas a precisar de uma mão, algo que as fortaleça e as ajude a levantar-se.
Para finalizar, na minha opinião eu achei que esta oportunidade foi bastante gratificante para todos os que assistiram, pois foi uma oportunidade bastante diferente.
Cindy Mascote, Nº36714

ainda a propósito da aula do dia 16

Bem...eu juro que tentei fazer uma quadra para mostrar a minha veia poética, mas qual não foi o meu espanto quando me deparei com a falta dela. Para onde terá ido?
Assim, vi-me obrigada a pedir ajuda a uma pessoa que tem muito jeito para a poesia (embora ela pense que não).
Aqui fica, o contributo da Drª. Cátia Fernandes da Apatris 21.
O meu muito obrigado.

A poesia popular
De antiga tem sabedoria
Não se trata de rimar
Nem tão pouco é tal mania

Mas referir os poetas
E a sua primazia
É como reviver um presente
Com sabor a marezia

Algarvio de gema
António Aleixo se destacou
Em terras de pescadores
Sua rima deslumbrou

Simples e humilde
Famoso pela ironia
Ainda hoje é lembrada
A sua obra e fantasia

E quem por Loulé passa
Não passa sem se sentar
Ao pé da imagem
Que o povo quis ofertar
Por respeito à grandiosidade
De quem sempre soube dar
Vitimado pelas injustiças
Que a vida soube roubar.

Catarina Viegas (2º ano do regime pós-laboral)

2009-11-18

Mais uma reflexão ...

Reflexão sobre Educação de Adultos

Escrever sobre este tema é mais difícil e complexo do que parecia, pelo menos à partida, a educação é um bem que deveria estar ao alcance de todos, pois uma pessoa dificilmente poderá ter uma vida digna num mundo globalizado e capitalista como o que vivemos actualmente, existem pessoas que infelizmente por terem vivido uma má infância ou por viverem isoladas da comunidade, não tiveram acesso a escolas. A educação para adultos pode ser uma esperança para que estas pessoas possam passar a desempenhar uma função diferente na vida e na comunidade onde estão inseridas, aumentarem a sua auto estima, valorizarem-se, e para desempenharem um papel mais activo enquanto cidadão, envolvendo-se e participando mais na vida da comunidade.
Sempre ouvi dizer que o mundo é a melhor escola da Vida e para mim nenhuma educação em meio escolar se pode comparar á experiencia adquirida ao longo de uma vida, as tradições, as experiências profissionais, não cabem dentro de um livro. Segundo Nóvoa existem seis princípios susceptíveis de servir de orientação a qualquer projecto de formação de adultos, um deles é o de saber respeitar a história de vida e a experiência profissional do adulto em situação de formação ”mais importante do que pensar em formar este adulto é reflectir sobre o modo como ele próprio se forma, isto é, o modo como ele se apropria do seu património vivencial através de uma dinâmica de compreensão retrospectiva” (Nóvoa, citado em Canário, 2000, p.21)
À medida que o modelo tradicional de educação se impõe nas escolas torna-se cada vez mais nítido a distinção entre a escola e a vida, é nesta medida que penso que a educação de adultos acima de qualquer coisa deve ter em especial atenção os saberes de cada indivíduo, a identidade, a cultura, as tradições, sabendo respeitar e trabalhar em conjunto e aprendendo em conjunto, “"Ninguém educa ninguém, ninguém se educa a si mesmo; os homens educam-se entre si, mediados pelo mundo". (Paulo Freire)
Freire considera que o processo educativo não se restringe ao âmbito da instituição escolar, mas acredita que pode desenvolver-se nas mais diferentes práticas sociais. Daí a sua defesa de que o ponto de partida do acto educacional seja os saberes que trazem os educandos.
Considero de extrema importância a reflexão acerca dos pressupostos éticos, morais e políticos que condicionam a educação. Pois vivemos numa sociedade, em que as elites ditam quais as regras a seguir, quem come, quem estuda, quem é alguém. Os valores perdem-se no tempo e no espaço e o que prevalece é a lei do “mais forte” e do “salve-se quem puder”. A educação tem sido uma maneira de manter a ingenuidade dos educandos, criando sujeitos, espectadores, acomodados com os factos e situações diversas.
A prática de uma educação tradicional é uma mais-valia para os opressores, formar pessoas sem o poder de questionar e argumentar, pessoas que são espectadoras da sociedade, que apenas recebem e aceitam os factos e jamais participam neles. O depósito de conhecimento faz dos homens e das mulheres seres de adaptação e de ajustamento, impedidos/as de terem uma consciência crítica, é preciso mudar esta educação fazer dos alunos sujeitos do mundo e não meros objectos.
Encarar a experiência de vida como ponto de partida fundamental, para organizar projectos de formação origina que vejamos de forma diferente e critica todo o percurso realizado, tornando possível reconhecer situações, contextos e vivências formadoras, tal como identificar capacidades e saberes adquiridos na acção e que apelam a processos de formalização. Esta prática permite encarar o adulto como recurso da sua formação e evitar o erro de ensinar ás pessoas coisas que elas já sabem, ou que não lhes serve de nada.
Como futura Educadora Social, penso que é extremamente importante existirem projectos de apoio á educação de adultos, como é o caso dos Centros de Novas Oportunidades, que valorizam a vida, a prática, os saberes e os interesses de pessoas que muitas vezes não tiveram oportunidade de estudar pelas mais variadas situações e, já numa idade adulta apercebem-se da existência de uma lacuna nas suas vidas, pois já têm emprego, família, casa e, continua, a faltar-lhes o reconhecimento das suas competências.

Micaela Rolão (2º ano)

2009-11-17

Cronograma (regime diurno)

Cronograma de Actividades (Regime diurno)

Novembro

Dia 23 -Educação de jovens e adultos e a prevenção da Toxicodependência
Projecto “Eu e os Outros”
Dia 24 - Educação de jovens e adultos e a prevenção da Toxicodependência
Projecto “Eu e os Outros"
Dia 30 -Educação de jovens e adultos e a prevenção da Toxicodependência
Projecto “Eu e os Outros"
Dezembro

Dia 7-Educação de jovens e adultos e a prevenção da Toxicodependência
Projecto “Eu e os Outros"
Dia 9 - (aula de reposição) -Outros âmbitos de Educação de Adultos
Dia 9 -Aula tutorial
Dia 14 -Paulo Freire e a Educação de Adultos
Dia 15-Teorias que influenciaram o pensamento de Paulo Freire
Dia 15- Aula tutorial

Janeiro/2010
Dia 4 - Workshop
Dia 5-Workshop
Dia 5-Aula tutorial
Dia 11-Frequência
Dia 12- Auto e hetero-avaliação da Unidade Curricular

A propósito da aula de dia 16

A propósito da aula de educação de adultos sobre a poesia popular e a obra de António Aleixo a aluna do pós-laboral, Florbela Dias, no final da aula improvisou as seguintes quadras:

Não é por mania
Nem tão pouco para me armar
Mas falar em Aleixo
Deu-me vontade de brilhar

Escrever algumas linhas
Sem ter alguma intenção
É só mesmo porque estou
Numa aula de Educação

Dada pelo prof. joca
A aula tem mais valor
É um gajo todo dinâmico
Deixando-nos todos de bom humor

Reflexão sobre educação de adultos em Stª Luzia

Com o acontecimento do 25 de Abril de 1974, a Educação altera-se, nesta altura “a agenda dos movimentos sócio-culturais passa a ser outra: a do seu lugar e do seu papel na alteração profunda das estruturas sociais.” (Silva, A.S., 1990) Estruturas estas como organizações, associações, movimentos políticos que actuam a nível local e regional. “A perspectiva que então prevalece é claramente a da “educação popular”, nestes dois sentidos: primeiro, já não se trata de difundir o modelo escolar (…) mas sim de apostar, de um lado, na comunicação entre a escola e o meio social, e, do outro, nos processos educativos de aprendizagem por resolução de problemas e por diálogo entre formadores e formandos, no quadro de projectos e estruturas sociais colectivas; segundo, não se trata apenas de promover actividades educativas, mas, e sobretudo, de focalizar e desenvolver as dimensões educativas de práticas sociais, privilegiando, portanto, as condições e os recursos para capacitação, para aquisição de competências para agir, e as oportunidades e virtualidades formativas e comunitárias dos momentos e práticas lúdicas.” (Silva, A.S., 1990).
Este campo de Educação de Adultos caracteriza-se, “pela diversidade das iniciativas que se acolhem entre as suas fronteiras, elas mesmas dinâmicas.” (Silva, A.S., 1990) Essa diversidade começa por estabelecer diferentes problemas inerentes a este campo social, que da mesma forma o caracteriza, um desses problemas é o analfabetismo “em todas as suas variantes, a insatisfação de necessidades e procuras sociais em educação, a desarticulação orgânica dos diversos níveis e percursos escolares, dos diversos modos e canais de formação, e de todos eles com os mundos do trabalho, da domesticidade e da cidadania.” (Silva, A.S., 1990)
Foi neste contexto de promoção cultural e social que eu, juntamente, com um grupo de amigos criei em Santa Luzia – a minha terra -, um projecto para uma possível Associação que viria colmatar algumas lacunas existentes na nossa comunidade. Com muita convicção do que queríamos fazer e, principalmente, do que era necessário fazer, levámos a cabo a criação da mais recente Associação do concelho de Tavira, a Associação Almadrava – Rede Cultural e Social de Santa Luzia, criada a 22 de Junho de 2009.
Esta Associação surgiu pela “necessidade de dinamizar a vida cultural da localidade, sobretudo junto de públicos muitas vezes esquecidos como os jovens e os idosos, e de não deixar morrer as artes tradicionais. Está na génese deste projecto que pretende agir nos mais diversos domínios culturais, desde a promoção de oficinas ligadas às diversas artes tradicionais, passando pela educação ambiental, ocupação de tempos livres, promoção de artistas e artífices da terra e do concelho, e formação em domínios como as novas tecnologias, a língua portuguesa e estrangeira e, as artes como a dança, o teatro, o cinema ou a música”, pode ler-se no sítio da A. Almadrava na internet.
Para se ficar a perceber o que a A. Almadrava, neste seu pouco tempo de vida, já fez terei que começar do início. Desde mostras de filmes passados e actuais, a exposições, campanhas de solidariedade, formações de inglês básico (propriamente, direccionado para o dia-a-dia numa localidade que recebe turistas estrangeiros), entre outras actividades.
Vou falar mais concretamente, dum episódio que se passou em Agosto passado e, que mais tarde o recordei quando o professor comentou uma experiência sua, também, na minha terra, há já mais de 20 anos. Como a Associação queria mostrar ao pública as suas mais variadas perspectivas, durante 6 dias da ExpoLuzia – feira que antecede as Tradicionais Festas dos Pescadores de Santa Luzia -, e com o apoio da Junta de Freguesia que nos patrocinou dois pavilhões de exposições, conseguimos decorar, mostrar, explicar e até relembrar temas mais ou menos ligados à nossa tradição. No quarto dia da ExpoLuzia, teve lugar o tema – A Pesca; que por tão ligada estar à terra e às suas gentes, suscitou um interesse fora do comum, desde mostras de senhores a construir artes de pesca tradicionais, como a murejona ou o cove, tínhamos uma mostra de um filme dos nossos antepassados – Almadraba Tuneira – filme este que causou um “alvoroço” nesta terra tão pequena. Desde os mais idosos aos mais jovens, nós, enquanto Associação, conseguimos chegar às várias faixas etárias, uns porque queriam relembrar, outros para poderem ficar a conhecer o que foi a vida dos seus avós, ou bisavós. Como era também o meu caso, e sinceramente, também eu estava eufórica para assistir ao filme e, principalmente, ver as reacções daquelas pessoas tão ansiosas, que levaram dias a perguntar: “mas o filme é mesmo sobre as armações do atum?” ou “a que horas passa o filme?”Assim, com um pouco de boa vontade, interesse em conhecer e partilhar experiências, passando um bom momento, junto à ria formosa (mesmo em frente à antiga sede do Clube R.D. Santaluziense), montámos um projector, juntámos umas cadeirinhas e fizemos educação de adultos.Espero continuar a fazer parte duma Associação que tem como base geradora, manter viva a tradição e raízes duma cultura tão bonita como a da minha terra – Santa Luzia e, de, também, poder servi-la.
http://almadrava.pt.vu
Mariana Pereira (2º ano)

2009-11-15

Texto para discussão na próxima aula

Educação de Adultos e cultura popular

Vivemos hoje um tempo em que o computador se tornou num recurso quase indispensável à nossa vida. Serve para quase tudo, quando falamos de educação. Esse cérebro electrónico serve parar pesquisar, para comunicar, para registar, para ler, para estudar, para recordar. É um instrumento formidável, mas, não tão indispensável assim, ou seja, nunca poderá substituir-nos. Não é só, porque não precisamos de estar ligados a qualquer corrente ou bateria para funcionar, mas, sobretudo, porque o ser humano, ao contrário dos computadores, tem memória e memórias associadas a sentimentos e emoções. Muitas dessas emoções e formas de estar perante a vida serão resultado da experiência de vida, dos saberes, das crenças, dos costumes, da cultura de cada um de nós. Uma cultura que será sinónimo de um modo de ser e de viver, conforme o contexto, as regras de convivialidade, a gastronomia, a forma de falar, a forma de estar, a forma de comunicar.
No Algarve, como no resto do nosso país, com contextos tão diversificados, com formas de ser e de estar tão diferentes, poderemos falar de uma cultura regional ou nacional, ou teremos de falar de culturas? Partindo desta ideia de cultura, entendido em sentido mais amplo, ou seja, cultura como o produto das diferentes maneiras de ser, estar, agir, será que podemos dizer que, provavelmente, toda a cultura é cultura popular, porque não subsiste cultura sem a adesão das pessoas. Este conceito de cultura popular nunca foi muito bem definido pelas Ciências Sociais e Humanas, daí a variedade de definições que comporta. Será que existe uma cultura que é popular e outra que não é? Será que existe uma cultura popular e uma cultura erudita? Será que essa cultura dita “erudita” não incorporará também crenças, saberes, modos de estar e agir com raízes no passado vivido pelo povo, a cultura praticada no quotidiano das pessoas.
O que parecemos saber é que não haverá pessoas com cultura e pessoas “sem” cultura e também não terá muito sentido admitir uma oposição entre cultura superior e cultura inferior. O que, também, parece ser verdade é que a”nossa” cultura só sobreviverá como referência de uma comunidade, se for recriada com base no respeito pelo passado. Daí que a memória colectiva, sobretudo, das pessoas e grupos que vivem em situações de maior isolamento, como é o caso dos idosos vivendo nos sítios menos acessíveis deste Algarve, deva ser preservada, para que o avanço dos tempos não apague a história e possamos todos e todas, sempre aprender com o esse ”passado”. Resgatar essas memórias, essa cultura e apresentá-la e valorizá-la, deveria ser uma das tarefas da educação de adultos, resgatar esse saber, essas experiências de vida, para que se conheça melhor a “nossa” cultura. Mas, para conhecer melhor as gentes deste Algarve, para melhor se compreender a sua maneira de ser e estar, as suas artes e ofícios, há que desenvolver processo de dinamização sociocultural que concorram com a acção dos media, mais empenhados em divulgar e quase impor, um outro tipo de cultura que reflecte uma ideologia associada ao poder económico e político
No Algarve, não há muitos anos, a ausência de desenvolvimento nas zonas mais do interior, podia ser avaliada, entre outros indicadores, pela ausência de infra-estruturas básicas, como por exemplo a água canalizada, electricidade, esgotos, centro de saúde, bombeiros. Hoje, felizmente, a maioria das vilas e aldeias dispõe desse tipo de equipamento. Porém, o que pensar do facto de não haver em muitos locais desta região algarvia, sobretudo, na serra, uma biblioteca, de não haver lugar ao teatro, à música, ao cinema, à dança, a actividades recreativas e culturais, de não haver projectos de educação de adultos, de acções direccionadas para pessoas idosas? Este facto, talvez ilustre os limites do conceito de desenvolvimento ainda dominante em muitos sítios deste Algarve. A questão é que os problemas do interior, a desertificação do mundo rural, o envelhecimento populacional, o isolamento social e cultural, as assimetrias de desenvolvimento, estão em total oposição ao modelo de desenvolvimento das cidades assentes na competição e no lucro. Nesta região, há, ainda, baixos níveis educativos e culturais, sobretudo, ao nível da população mais idosa, sendo que esse défice é, naturalmente, mais acentuado nas regiões do interior, o que justificaria que fosse feito um maior esforço, em termos de oferta educativa e cultural.
A acção educativa e cultural pode ter um importante papel no processo de desenvolvimento destas zonas mais deprimidas, sobretudo, quando essas zonas constituem autênticos reservatórios de cultura. É no sentido de poder aproveitar esse capital cultural que a educação de adultos poderia ter uma importância estratégica, nomeadamente, através da animação sociocultural, no reforço do potencial educativo das comunidades e na criação de uma cultura de desenvolvimento. No âmbito da educação de adultos a animação sociocultural pode ser perspectivada como um processo que permitiria ajudar à mudança, no sentido de transformar a passividade, a resignação e o fatalismo em participação, autonomia e emancipação, no sentido do desenvolvimento pessoal e comunitário.


2009-11-13

António Aleixo

António Aleixo nasceu em Vila Real de Stº António a 18 de Fevereiro de 1899 e faleceu em Loulé a 16 de Novembro de 1949.
Na próxima 2ª feira faz 60 anos que o Algarve perdeu um dos seus poetas mais emblemáticos


Na próxima aula vamos falar da vida e obra deste poeta popular e reflectir sobre a temática da poesia popular no âmbito da educação de adultos

2009-11-11

Relatório da aula do dia 20 de Outubro

Na aula passada falámos essencialmente sobre a Educação Escolar e como se deu origem à Educação de Adultos. Referiu-se, por exemplo, que todos os autores da Escola Nova influenciaram o pensamento e consequentemente os estudos de Paulo Freire e que a educação tem sempre uma determinada finalidade. Para além disso, falou-se sobre a escolarização e que esta se desenvolveu ao longo dos séculos – pelo menos nos países mais desenvolvidos – e que a educação esteve sempre ligada à ideia de preparação para a vida sendo que o tipo de escola estava sempre ligado ao tipo de homem que se pretendia criar/formar. A revolução industrial foi importante factor para o aumento da escolarização, pois no trabalho fabril era necessário ter um mínimo de habilitações.
Após a II Guerra Mundial e com o avanço da Ciência, as escolas de preparação profissional ganharam importância, o que fez com que surgisse uma rivalidade entre os alunos que frequentavam este tipo de escola e os que frequentavam o liceu (mesmo entre os professores existiu esta rivalidade). Nesta altura, procurou-se muito o ensino/escolas técnicas pois assim podia-se entrar logo no mundo do trabalho. Porém, com a Reforma Educativa de 1948, assistiu-se a um decréscimo quanto à procura do ensino técnico profissional que, por sua vez, visava dotar o aluno de uma formação geral adequada.
Segundo António Mattoso “(…) A escola passiva foi substituída pela escola activa; à quantidade sucedeu a qualidade; a escola onde se aprende desapareceu de vez para dar lugar à escola onde se trabalha. A escola dogmática, formalista, livresca, materialista, na qual o aluno é um ser passivo, o mestre senhor omnipotente da vontade escolar, não existe hoje em Portugal nos novos cursos preparatórios do Ensino Técnico Profissional (…)”.
Depois o docente perguntou: será que a educação escolar prepara para a vida? Falou-se então, a propósito desta questão, da década de 60, ou melhor dizendo, no Maio de 68 onde os alunos universitários se revoltaram inicialmente nos E.U.A. para de seguida se alastrar pela Europa toda. Contestaram que se gastava imenso dinheiro na guerra mas pouco se investia nas escolas/universidades, pois nestas perdeu-se o contacto com a vida e com a cultura. A escola estava mais orientada para a profissionalização do que para a cultura.
A partir da década de 60 alguns autores defendiam então a desescolarização (Ivan Illich).
O docente ainda fez algumas questões para as debater na aula. Já quase no final desta, vieram duas colegas licenciadas em Educação Social para falarem do Núcleo Paulo Freire da nossa Universidade (o que faz; o que pode fazer com a nossa ajuda e o que nós queremos que este Núcleo faça).
Isabelle Fundinger

2009-11-08

Evolução do conceito de E.A.

Parte V

49- Em 1999 foi criada a Agência Nacional de Educação e Formação de Adultos (ANEFA) surgindo, pela primeira vez, em Portugal um Instituto Público, “com autonomia científica, técnica e administrativa” (artigo 1.º), com responsabilidades na área da educação e formação de adultos. Apesar de contribuir para a valorização de um sector que se encontrava escolarizado, disperso e marginalizado do sistema educativo e da política educativa, pelo menos entre 1985 e 1995, a ANEFA não corresponde às expectativas nem às propostas apresentadas pelo Grupo de Trabalho, face às limitações observadas ao nível da política global e coerente para a educação e formação de adultos, bem como a não contemplação de áreas de intervenção, designadamente a educação para o trabalho e para a cidadania, a animação socioeducativa e o desenvolvimento comunitário.
50-Das realizações empreendidas pela ANEFA há a destacar a implementação de um Sistema Nacional de Reconhecimento e Validação e Certificação de Competências e a construção gradual de uma Rede Nacional de Centros RVCC.
51-A estruturação destes Centros é concretizada pelo Referencial de Competências-Chave de Educação e Formação de Adultos, organizado em três níveis Básico 1, Básico 2, Básico 3 e abrange quatro áreas de competências-chave: linguagem e comunicação, matemática para a vida, tecnologias da informação e comunicação e cidadania e empregabilidade.
52-Outra acção da ANEFA é a criação dos cursos de educação e formação de adultos (cursos EFA), no sentido de proporcionar uma oferta integrada de educação e formação destinada a públicos pouco qualificados; contribuir para a redução do défice de qualificação escolar e profissional da população portuguesa, potenciando as suas condições de empregabilidade; promover a construção de uma rede local de EFA.
53-Os cursos EFA dirigiam-se a adultos com idade superior ou igual a 18 anos, sem escolaridade básica, sem qualificação profissional e preferencialmente desempregados, sendo possível estes cursos serem promovidos por diferentes entidades, associações, autarquias ou empresas, desde que acreditadas pelo Instituto para a Inovação da Formação.
54- No âmbito da ANEFA, também foram desenvolvidas as Acções S@ber+, que eram constituídas por módulos de 50 horas, abrangendo vários domínios e qualquer público, assim como o lançamento de publicações periódicas e materiais de divulgação como, por exemplo, a Revista para o Desenvolvimento da Educação e Formação de Adultos.
55-Estas acções da ANEFA são dirigidas a adultos em idade activa, sendo os outros adultos, fora da vida activa, excluídos da educação e formação de adultos, contrariando-se as Recomendações Internacionais (Conferência de Hamburgo, realizada em 1997)
56- Diferentes agências internacionais, como a UNESCO e as Nações Unidas, têm chamado a atenção para a discriminação que os idosos, entre outros grupos, têm sido alvo em matéria educativa. Considerar o direito dos idosos à educação implica uma concepção de educação permanente, como foi defendida no Relatório Faure, bem como um conceito de educação de adultos abrangente e global. Este conceito ideal de educação permanente, de educação ao longo da vida, tem vindo a ser alterado e tem surgido no seu lugar uma ênfase na aprendizagem ao longo da vida, conceito veiculado por agências internacionais como a Comunidade Europeia, traduzindo uma valorização do vector educação-mercado de trabalho, em vez de educação-democracia-cidadania.
57-Esta ênfase na Aprendizagem também implicou uma alteração no papel do Estado, deixando de ser o principal fornecedor e responsável em matéria de políticas sociais, mas passando a incentivar o envolvimento da sociedade civil na promoção de diferentes serviços, outrora da responsabilidade estatal. Neste cenário, valoriza-se mais a preparação para o mercado de trabalho junto da população activa, excluindo-se os idosos e os reformados do direito à educação permanente. Do direito à educação passou-se
ao direito do cliente.
58-Em 2002, a ANEFA foi extinta, tendo sido transferidas as suas funções para a Direcção Geral de Formação Vocacional. A DGFV é um serviço central integrado no Ministério da Educação capaz de actuar transversalmente na concretização dos objectivos de qualificação, ao longo da vida, dos jovens e adultos.
59- Em 2006 é criada a Agência Nacional para a Qualificação, organismo de tutela ministerial conjunta entre os Ministérios do Trabalho e da Solidariedade Social e da Educação. É missão da ANQ, coordenar a execução das políticas de educação e formação profissional de jovens e adultos e assegurar o desenvolvimento e a gestão do sistema de reconhecimento, validação e certificação de competências. Os Centros RVCCC passam a denominar-se Centros Novas Oportunidades
60- A Iniciativa Novas Oportunidades propõe metas ambiciosas no domínio da certificação escolar e profissional da população e exige a mobilização alargada dos instrumentos, políticas e sistemas de qualificação. A articulação institucional entre os ministérios com responsabilidade na educação e formação profissional e a participação dos parceiros sociais e das organizações da sociedade civil constituem condições fundamentais de afirmação desta estratégia. Cabe à ANQ promover a sua concretização, pautando a sua acção por um trabalho sustentado e articulado com as entidades certificadoras e com as entidades que asseguram a acreditação e a formação no âmbito das redes de organizações públicas e privadas, nomeadamente, as Direcções Regionais de Educação (DRE), a Direcção-Geral do Emprego e das Relações de Trabalho (DGERT) e o Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP).
61- A ausência de uma política global e coerente de Educação de Adultos em Portugal tem conduzido à marginalização deste subsistema educativo.